Política Titulo Para além do Hospital da Mulher
Segundo mandato de Morando é marcado por escândalos na saúde

Gestão tucana passou por demissão em massa, UBS interditada, alas fechadas no HC e até coação do secretário para funcionário não registrar jornada de trabalho

Artur Rodrigues
28/04/2024 | 08:44
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FOTO: Celso Luiz/DGABC


Diante dos inúmeros casos de negligência, erro médico e violência obstétrica registrados no Hospital da Mulher nas últimas semanas, todos os olhares estão sob a gestão do prefeito Orlando Morando (PSDB) e do secretário de Saúde Geraldo Reple Sobrinho. Em que pese a pressão sobre o chefe da pasta, vinda, principalmente, da Câmara, que deve convocá-lo em breve, o caos não começou agora. Sob comando de Reple desde 2017, a Pasta passa por escândalos desde o início do segundo mandato tucano na cidade 

Em novembro de 2021, primeiro ano após a reeleição de Morando, funcionários que atuavam na saúde denunciaram que foram coagidos por Reple a não registrar os horários de trabalho aos fins de semana em que atuaram nas campanhas de vacinação contra a Covid-19 e também durante ação relacionada às atividades do Outubro Rosa, de combate ao câncer de mama, naquele ano. Com medo de represálias, os servidores acataram a ordem e não marcaram o ponto. Na Câmara, um grupo de vereadores fez pressão para que o secretário fosse convocado para prestar esclarecimentos sobre a denúncia, mas a base do chefe do Executivo barrou a convocação. 

A crise se intensificou no ano passado. Em abril, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) encontrou problemas estruturais em pelo menos três UBS (Unidade Básica de Saúde) do município: Caminho do Mar, no bairro Rudge Ramos; na UBS Rudge Ramos, no mesmo bairro; e na unidade básica Vila Dayse. 

Ainda em abril, a UBS Parque São Bernardo, no bairro Baeta Neves, ficou fechada por duas semanas por conta de furtos na fiação e computadores da unidade. No mesmo mês, a Defesa Civil interditou a UBS União por risco de desabamento. Prevista para 30 dias, a reabertura do equipamento foi feita apenas quatro meses depois. 

Em maio, o SindSaúde ABC, o sindicato da categoria na região, informou ao Diário que até 500 funcionários poderiam ser demitidos em São Bernardo. A situação foi parar na Justiça do Trabalho e, nas audiências, a Prefeitura, junto da FUABC (Fundação do ABC), assumiu as demissões. A Justiça ordenou a suspensão imediata dos desligamentos, assim como a readmissão dos demitidos, e obrigou o Paço a abrir PDV (Programa de Demissão Voluntária). 

No mês seguinte, outra bomba estourou. A Prefeitura fechou três andares do HC (Hospital de Clínicas) para reformas porque apresentavam vazamentos, infiltrações e pisos com elevações em alguns pontos. O Diário apurou à época que 110 dos 257 leitos foram desativados, dos quais 20 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) – são em torno de 40. Em julho, outro escândalo rondou o Hospital de Clínicas. Funcionários da unidade denunciaram a instalação de câmeras nos vestiários masculino e feminino. O SindSaúde entrou com ação na Justiça, que ordenou à Prefeitura a retirada imediata das câmeras. 

O caos que se instalou fez com que a gestão Morando recorresse ao socorro do governo do Estado, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos). Durante o ato de inauguração do Hospital da Mulher, em julho do ano passado, o governador anunciou aporte de R$ 150 milhões à Secretaria da Saúde. Na ocasião, até o chefe da Pasta declarou que Tarcísio estava “salvando a saúde de São Bernardo”, mesmo com o setor sob orçamento de R$ 1,2 bilhão em 2023. 

Vereadora propôs convocação de Reple no ano passado

Em meio aos problemas que se acumularam na rede municipal de saúde de São Bernardo ao longo do segundo mandato do prefeito Orlando Morando (PSDB), a vereadora Ana Nice (PT) protocolou, em junho do ano passado, requerimento pedindo que o secretário da Pasta, Geraldo Reple Sobrinho, fosse convocado para prestar esclarecimentos sobre o que chamou de “caos e precarização” do setor. 

Os vereadores da base governista, no entanto, não permitiram que o requerimento da petista fosse votado no plenário. Por ser um pedido de urgência, Ana Nice precisava reunir a assinatura de pelo menos 15 parlamentares para que o requerimento entrasse em votação. Mas apenas quatro legisladores assinaram – Ana do Carmo (PT), Getulio do Amarelinho (PT) e Julinho Fuzari (Cidadania), além da própria autora –, o que impediu que o pedido tramitasse na mesa diretora. 

Na ocasião, o líder do governo no Legislativo, o vereador Ivan Silva (PRTB), declarou não ser necessária a convocação de Reple com a justificativa de que o secretário de Saúde sempre responde aos requerimentos enviados à Pasta. “Ele sempre atende a gente”, disse Ivan à época. 

Discurso parecido foi adotado pelo vereador na sessão da quarta-feira, quando saiu em defesa da administração em meio aos casos de negligência no Hospital da Mulher. “Quantas pessoas morrem todos os dias em hospitais? São complicações naturais que acabam ocorrendo. São tragédias, claro, ninguém é conivente com nada disso, mas é o ciclo natural da vida”, disse Ivan para justificar os problemas da Prefeitura. Mas, diferente do que ocorreu no ano passado, o líder do governo não tem o apoio da maioria dos vereadores, já que 18 deles assinaram o requerimento para finalmente convocar Reple à Câmara.




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