Novo Perfil da Região Titulo Terceira idade
Região tem quatro anos para se adequar a novo perfil populacional

Cidades terão de investir até 2025 em áreas como saúde e economia para garantir qualidade de vida para os idosos

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
21/11/2021 | 01:00
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DGABC/ Claudinei Plaza


O Grande ABC terá mais idosos do que crianças em 2025 e vai alcançar a marca 15 anos antes do que é previsto para o restante do Brasil, de acordo com <CW-30>dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)</CW>. Em quatro anos, a região atingirá a marca de 491.264 pessoas acima de 60 anos e 486.820 crianças de zero a 14 anos, segundo informações da Fundação Seade, instituição mantida pelo  governo do Estado. Clique aqui e confira as reportagens da série que aborda as principais causas e consequências do envelhecimento populacional no Grande ABC. 

Diante da mudança demográfica, que aumentará a participação dos idosos no total da população, as sete cidades da região precisarão investir em diversas áreas das políticas públicas, como saúde, educação, segurança, cultura e lazer, para oferecer serviços gratuitos que atendam às necessidades desse grupo, que vai carecer de atividades específicas. 

O professor e coordenador do observatório de políticas públicas, empreendedorismo e conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, elenca quais áreas os municípios deverão priorizar para poder atender o aumento na demanda. “As administrações públicas devem, entre outras ações, preparar uma nova legislação de apoio à pessoa idosa; formar quadros técnicos especializados no assunto; discutir secretarias e estruturas específicas voltadas para este público; além, claro, de ofertar opções de cultura, lazer e saúde. A geração de empregos para manter a independência e qualidade de vida do idoso também é algo que deve ser implementado”, explica o docente. 

O atual cenário revela que, pelo menos na área da saúde, os municípios não disponibilizam nenhum hospital do idoso. A cidade mais avançada nessa área é Santo André, que está construindo uma unidade no município. O espaço, que oferecerá atendimento especializado, tem previsão de inauguração para dezembro de 2022 e ficará localizado na Vila Luzita, região periférica da cidade. 

O prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), reforça a importância da construção do hospital. “Santo André investe em políticas públicas de qualidade para melhorar a vida da nossa gente, de maneira efetiva. Para os idosos, estamos tirando do papel o hospital de retaguarda de Vila Luzita, que vai garantir atendimento humanizado e de qualidade, desafogando o CHM (Centro Hospitalar Municipal)”, argumenta o chefe do Executivo – Santo André tem mais idosos do que jovens desde o ano passado. 

Em Ribeirão Pires, a Prefeitura alegou que não possui hospital voltado para as necessidades das pessoas mais velhas, mas que a cidade tem se preparado para isso. Segundo o Paço, nos próximos anos será inaugurado o Hospital Municipal Santa Luzia e também o Centro de Especialidades Médicas, que atenderão a população idosa.  No momento não há projeto de equipamento para idosos em São Caetano, mas a cidade garante que oferece atendimento médico especializado nos cinco Cises (Centros Integrados de Saúde e Educação da Terceira Idade).  

Diadema planeja a construção de um novo prédio para o HMD (Hospital Municipal de Diadema), que atenderá também ao público idoso, entretanto, o local não será exclusivo. Em São Bernardo, que também não possui hospital do idoso, está em vigor o programa exclusivo para atenção à pessoa mais velha, denominado Cuidadoso, cujo atendimento ocorre na UBS (Unidade Básica de Saúde) do Rudge Ramos. Para acompanhar o aumento da população idosa na cidade, a Prefeitura projeta instalar nove unidades do programa, contemplando quase todos os 12 territórios municipais. 

Mauá e Rio Grande da Serra, que também não disponibilizam um espaço especifico para atendimento médico do idoso, não informaram quais os projetos da cidade em relação ao assunto.

MERCADO DE TRABALHO

Além da área da saúde, o professor de políticas públicas Jefferson José da Conceição também alerta sobre a necessidade de os municípios se prepararem economicamente para essa mudança demográfica. “A grande questão é gerar empregos para que esse bônus demográfico (quando há mais pessoas em idade de trabalhar do que aposentadas)</CF> se efetive. Neste sentido, a região necessita discutir a revitalização de sua indústria e das suas áreas de comércio e serviços. É fundamental gerar empregos para as faixas etárias mais altas, principalmente por conta da reforma da Previdência, que aumentou o tempo de trabalho das pessoas. No entanto, o mercado e as empresas estão longe de estarem preparados para isto”, ressalta Conceição, que reforça a importância de manter esse grupo em plena atividade. “Conquistar uma vida social e econômica ativa é um dos desafios na terceira idade e isso requer estar envolvido em projetos voluntários ou remunerados”, finaliza o especialista.

Morador de Rio Grande da Serra, José Miguel Tartuci, 81 anos, busca manter a vida movimentada mesmo depois de parar de trabalhar. O paulistano se mudou para cidade há 26 anos em busca de descanso após a aposentadoria. Seguindo os passos da sua mulher, que faleceu este ano vítima da Covid-19, atualmente ele é diretor da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). “Meu maior exercício foi e continua sendo o trabalho. Hoje realizo serviço voluntário e amo o que faço, espero continuar por muitos anos”, conta Tartuci. 

Aumento de idosos impulsiona a economia prateada 

O envelhecimento populacional é constantemente associado ao aumento de gastos públicos nas áreas da saúde e Previdência Social, por exemplo. Porém, o aumento nas demandas da população idosa também faz surgir novas oportunidades econômicas, conforme define o conceito de economia prateada, voltada principalmente para o público com mais de 60 anos. Também conhecida como economia da longevidade, acompanha o crescimento dos idosos em cada região e, consequentemente, quanto mais numerosa for a população mais velha do local, mais oportunidades econômicas poderão surgir para o território. 

O especialista em consumo e tendências Arthur Igreja explica que o Grande ABC pode se beneficiar economicamente com o amadurecimento dos seus moradores. “Os consumidores sêniors, público acima dos 60 anos, são pessoas que trabalham além do tempo previsto e, assim, também continuam economicamente ativos. Não existe mais aquele recorte social de chegar em tal idade e não contribuir mais para a economia. A região pode se beneficiar por essa parcela da população ainda ser profissionalmente e economicamente muito ativa, o que acaba movimentando o consumo e o mercado de trabalho comparado ao que ocorria há décadas”, explica Arthur. 

Ao analisar o perfil dos consumidores dessa faixa etária, o especialista esclarece que ao longo dos anos houve diversas mudanças comportamentais que separam os idosos do passado com os de hoje. “Do lado positivo, são contribuições efetivamente diferentes, muito capital intelectual e muita capacidade de produção. A economia se tornou mais do conhecimento, mais cerebral e menos braçal. E, com isso, essas pessoas continuam produtivas. Não é como antigamente, quando as pessoas trabalhavam em lavouras e aos 50 anos já estavam cansadas. Hoje, os mais velhos seguem ativos e querem continuar trabalhando, têm vitalidade”, argumenta Igreja, que ainda finaliza “É totalmente errado, míope e banal olhar os idosos apenas como gasto.




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