Novo Perfil da Região Titulo Novo perfil da região
Em 2025 Grande ABC terá mais idosos do que crianças

Envelhecimento deve manter ritmo acelerado e, em 30 anos, região atingirá dobro de mais velhos

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
23/10/2021 | 22:09
Compartilhar notícia


A população do Grande ABC está envelhecendo. Em menos de quatro anos, a região terá mais idosos do que crianças, conforme aponta levantamento feito pelo Diário com base em dados da Fundação Seade, gerenciada pelo governo do Estado. Em 2025, serão 491.264 pessoas com mais de 60 anos, contra 486.820 crianças de 0 a 14 anos. Para entender esse novo perfil dos moradores da região e suas consequências, o Diário inicia hoje e vai publicar nos próximos domingos uma série de reportagens sobre o tema.

Os dados indicam que a região passará por envelhecimento da população cerca de 15 anos antes da média brasileira, já que no País a mudança deve ocorrer apenas em 2040, segundo projeção do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O aumento da longevidade nas sete cidades será de forma constante e acelerada nos próximos anos. De 2020 a 2025 o crescimento no número de idosos deve chegar a 19,4%, enquanto que a população mais nova irá diminuir em 1,5%. 

O casal de professores aposentados, Antônio de Andrade, 75 anos, e Nirce Luiza Ferrari Andrade, 70, de Santo André, fazem parte do atual grupo de idosos que vivem na região. Pais de três filhos, eles ainda estão tentando se adaptar ao tempo livre que a aposentadoria trouxe e, ao mesmo tempo, buscam manter vida ativa. “É importante cuidar do corpo e da mente nesta fase. Não adianta focar só na saúde física, precisamos olhar também para a saúde mental da população idosa. Por isso estamos sempre em movimento, lendo livros e fazendo passeios culturais”, conta Antônio. 

Para eles é fundamental se manter ocupados com diferentes projetos. “Qualidade de vida nessa idade é, acima de tudo, ter autonomia e poder de dominar seu pensamento”, conta a ex-professora de educação infantil, Nirce. 

Em 2050, a região deverá passar por mudança histórica e deverá atingir o dobro de idosos. Neste período, serão 820.835 pessoas da terceira idade (aumento de 99,5% em relação ao contingente atual) contra 373.024 crianças. 

O doutor em demografia e professor aposentado, José Eustáquio Diniz Alves, 67, associa o processo de envelhecimento da população à chamada transição demográfica, quando as taxas de mortalidade e natalidade diminuem. “Uma das razões para explicar esse fenômeno é o avanço em diversas áreas como saúde, educação e transporte, que impactou no aumento da estimativa de vida e na diminuição da mortalidade infantil. Este processo provocou uma mudança na estrutura etária, com a redução da base da pirâmide populacional e o aumento do topo da pirâmide”, explica o docente. 

A estimativa para essa mudança de perfil populacional também pode estar ligada ao avanço tecnológico na área da saúde. O diagnóstico precoce e melhores tratamentos em doenças crônicas impactaram na expectativa de vida dos pacientes, que podem viver mais tempo com as doenças controladas, conforme afirma Mariana Bellaguarda de Castro Sepulvida, 33, coordenadora do serviço de geriatria no Hospital São Luiz, em São Caetano, e docente de medicina na USCS (Universidade Municipal de São Caetano). 

BAIXA NATALIDADE
A diminuição da fecundidade se destaca entre os principais motivos para a queda no número de crianças na região. Em período de dez anos, de 2010 a 2020, o número de jovens diminuiu 8,2% no Grande ABC. A queda fica ainda mais evidente quando são analisados os próximos 30 anos. A estimativa é que até 2050 a queda seja de 24,5%.

A moradora de São Caetano, Cristina Neves Ferrari, 58, é uma das pessoas que contribuíram para o menor número de crianças na região. A assistente administrativa é casada há 25 anos e decidiu que a maternidade não era o seu sonho. Ela alega que a decisão não afetou em nada sua vida, mas admite que sofre cobranças até hoje por conta da escolha.

“Algumas pessoas ainda julgam as mulheres que não querem ter filhos. Falam que a vida é solitária, mas não acredito nisso. A solidão é um estado de espírito, nunca me senti só, sou muito feliz sem filhos”, argumenta Cristina. A são-caetanense ainda aconselha as mulheres que optam por não terem filhos. “Sejam felizes com suas escolhas e não escutem o que outras pessoas dizem”, finaliza.

CENÁRIO NAS SETE CIDADES
São Caetano foi a primeira cidade do Grande ABC a registrar mais idosos do que crianças, ainda em 2005. O cenário se mantém desde então e, em 2020, o município contabilizou 22.179 crianças de 0 a 14 anos e 34.932 pessoas com mais de 60 – diferença de mais de 12 mil habitantes. A projeção é que a cidade tenha o dobro de idosos já em 2030, antes de qualquer outro município da região. Em 2050, quando quase todos as cidades terão duas vezes mais pessoas da terceira idade, São Caetano chegará ao número quatro vezes maior.

Outro município que passou a ter a população mais velha antes da média geral da região foi Santo André. Já, em 2020, o levantamento mostrou que na cidade haviam 3.197 mil habitantes idosos a mais do que crianças. Porém, o crescimento desse grupo no município será menos acelerado do que em São Caetano. Santo André deve chegar ao dobro de idosos apenas em 2045, quando deverá alcançar 199.851 habitantes mais velhos, contra 92.450 crianças.

Em 2025, quando a média das sete cidades da região devem registrar mais idosos, Diadema, Mauá e Rio Grande da Serra ainda devem permanecer com sua população mais jovem. A primeira das três cidades a envelhecer predominantemente será Mauá, em 2030, seguida por Diadema e Rio Grande da Serra, em 2035.  Os números mostram que, já em 2025, São Bernardo e Ribeirão Pires se juntam a Santo André e São Caetano e passam a ter mais idosos que crianças.


Especialistas enumeram consequências causadas pela mudança de perfil

Doutor em demografia e professor aposentado, José Eustáquio Diniz Alves acredita que o  envelhecimento populacional tem dois impactos profundos no quadro socioeconômico. O primeiro é o fim do bônus demográfico, que ocorre quando diminui a proporção de pessoas no grupo de idade economicamente ativa. O segundo impacto ocorre em função desta transformação de pessoas ativas – que geram renda – para pessoas inativas – que recebem renda (de aposentadoria, de transferências governamentais etc.). 

Para o especialista, o Brasil, e por consequência o Grande ABC, não está preparado para o envelhecimento da sua população. “O Brasil ainda é um País de renda média, com muitas pessoas em situação de pobreza. De fato, só vai conseguir dar um salto para o grupo de países de renda mais alta se aproveitar o bônus demográfico que vai ocorrer, no máximo, até 2040. Se o Brasil envelhecer antes de enriquecer, poderá ficar eternamente preso na armadilha da renda média”, alerta. 

Coordenadora do serviço de geriatria no Hospital São Luiz, em São Caetano, e docente de medicina na USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Mariana Bellaguarda argumenta que a sociedade deve parar de enxergar o idoso como um fardo. “As pessoas mais velhas contribuiriam com a economia por vários anos. Com aumento da qualidade de vida, esse público pode seguir trabalhando e gerando renda. O Brasil está muito atrás de outras nações porque ainda trata o idoso como uma carga que precisa ser eliminada”, lamenta.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;