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Destruiçao - Todo o complexo foi destruído com fogo, paus, pedras e enxadas. Com essas mesmas armas, os infratores ameaçaram funcionários e fizeram reféns 15 monitores e 30 adolescentes, que estavam amarrados próximos de baldes com álcool. Segundo eles, se a Tropa de Choque invadisse o local, poriam fogo nos reféns. "Nao temos nada a perder", afirmava M.S., 17 anos. A cada meia hora, uma fumaça preta que vinha dos alojamentos tomava a regiao. Sinal de que a situaçao do lado de dentro da unidade continuava muito tensa.
O motivo para a barbárie era desconhecido. Alguns afirmavam ser a greve dos funcionários prevista para terça (26) às 6 horas. Outros diziam ser a superlotaçao ou até mesmo briga entre grupos rivais. "É uma série de fatores, uma situaçao dramática que se arrasta desde o Natal passado", argumentou o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Menor, que acompanhou o tumulto.
Choque - A Tropa de Choque chegou ao local às 7h50 de segunda (25) e 400 PMs cercaram todo o complexo. As negociaçoes começaram por volta das 9 horas. Os adolescentes exigiam transferências para as unidades Ribeirao Preto e Raposo Tavares. Soltavam os reféns à medida que os ônibus chegavam para buscá-los. Os primeiros ônibus saíram com menores às 9h23. As 10h20, três reféns foram soltos.
"Era paulada de cano até virar papa", contou o monitor Roberto Brasil, que passou 11 horas como refém. "Eu estava escalado para morrer; nao sei como escapei", relatou. "Foi um horror; menor matando menor, barbarizando funcionários". Do lado de fora, o desepero tomava conta dos parentes, que desafiavam a polícia e tentavam derrubar as grades para ter notícias dos filhos.
Por volta das 11 horas, um grupo de pais ameaçou espancar um monitor. "Sao eles que batem nas nossas crianças", gritava uma mae. Ambulâncias entravam e saíam da unidade, ao lado de carros da Rota e da Polícia Civil. Sobre os muros, menores mostravam que ainda mantinham com eles reféns e exigiam mais transferências. Foram removidos em quatro ônibus até as 17 horas 243 menores - cem para o Complexo Tatuapé, cem para o Centro de Observaçao Criminológica do Carandiru (COC), 20 para a Unidade de Raposo Tavares e 23 para a Ribeirao Preto.
Bomba de gás - Quando tudo parecia controlado, por volta das 14h10, os menores tomaram a Unidade Educacional 1 (UE-1), onde fica a parte administrativa e áreas de lazer. A tentativa de fuga de um interno da ala A, R.S.A., que pulou a grade do complexo, mas foi recapturado, causou um confronto entre pais e policiais. Um dos parentes atirou uma pedra e detonou uma guerra só apaziguada com bombas de gás lacrimogênio.
Valdenberg Leite de Andrade, vendedor, 19 anos, que teria atirado a pedra, mostrava os ferimentos nos braços e negou o ato quando encaminhado ao 97.º Distrito. Momentos depois, no mesmo local, outro susto. Menores quebraram o telhado da UE-1 e começaram a atirar telhas nos policiais. A Tropa de Choque entrou na Febem e retirou os adolescentes.
O último refém foi libertado às 15h30 e, segundo as informaçoes da Febem, a rebeliao foi controlada a partir desse momento. Mesmo com o encerramento anunciado, por volta das 18h15 os pais revoltados com a falta de informaçao derrubaram uma das grades de proteçao, desafiando a Tropa de Choque, que teve de reagir. A confusao foi controlada rapidamente
O presidente da Febem, Guido Andrade, limitou-se a dizer que vê com tristeza a situaçao, mas ponderou. "Vamos precisar ainda de mais seis meses para dar condiçoes adequadas a esses internos".
Direitos humanos - Para representantes de entidades de direitos humanos, sao necessárias medidas de emergência. "O governador Mário Covas nao pode esperar mais", disse o deputado estadual Renato Simoes (PT), que entrou nas instalaçoes durante o motim. "O Legislativo já deu os meios para que o governo tome atitudes; falta açao".
Estopim - Em princípio, a rebeliao teria sido desencadeada por causa da greve dos monitores, prometida para esta terça-feira (26) a partir das 6 horas. O motivo para a paralisaçao era a onda de demissoes na categoria e a falta de condiçoes de trabalho. Receosos de que o Tropa de Choque ocupasse o local no lugar de monitores, menores amotinaram-se no sábado (23) iniciando um confronto de quatro horas.
A revolta tomou novas proporçoes no domingo (24), quando internos da ala B invadiram a ala A, ateando fogo nos colchoes e explodindo botijoes de gás. Todas as alas foram destruídas e cerca de mil internos permaneciam rebelados até a tarde desta segunda-feira. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência ao Menor do Estado de Sao Paulo, Antônio Gilberto da Silva, a greve foi suspensa, por enquanto. Está prevista para esta terça de manha uma assembléia para confirmar ou nao a paralisaçao.
Segundo o Comando de Policiamento Militar (Copom), até o fim da tarde desta segunda, 25 internos foram recapturados.
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