ouça este conteúdo
|
readme
|
Baseado nas premissas do Slow Food, movimento mundial que prega o consumo de alimento bom, limpo e justo, nasce no País uma ramificação formada pelos apreciadores da cerveja artesanal, o Slow Bier Brasil. Em São Bernardo, a filosofia do beber com moderação, cultura e prazer tem um fervoroso adepto, o tradicional Bar do Freguês.
É difícil não se render ao simpático botequim, em atividade desde 1947. O ambiente amigável e familiar oferece 109 tipos de cerveja. É possível fazer uma viagem gastronômica, conciliando petiscos e pratos do variado cardápio com loiras, ruivas ou morenas geladas (ou nem tanto, como algumas cervejas pedem).
Para tanto, há pessoal treinado e o proprietário Marco Aurélio Ferreira com sugestões de harmonização. Sim, o primeiro passo é desligar o piloto automático para não beber a cerveja de sempre.
A ideia é se arriscar, (re)ativar os sentidos, mudar o ritmo do sorver e ler rótulos. Como os vinhos, cerveja deve ser observada, cheirada, enfim, degustada.
Nessa última visita ao Bar do Freguês foi constatado que, felizmente, pouca coisa mudou. A decoração continua mantendo o clima de armazém, o atendimento segue atencioso e a comida, caprichada.
Optamos por um clássico da cozinha de botequim, a alcatra a Baden Powell. A carne veio ao ponto no rechaud cortada em cubos; por cima, cubos derretidos de queijo gorgonzola e tomate seco. Um prato generoso, que serve muito bem duas pessoas. Interessante notar como o gorgonzola se suaviza ao ser esquentado e faz uma liga perfeita com a carne.
Não deixe de experimentar o creme de alho que acompanha a receita. E já que a ideia é reeducar o gosto do freguês, a casa recomenda para acompanhar o prato a Fuller 1845 (500ml, R$ 27).
Ela é fabricada na última fábrica que resiste nos limites da cidade de Londres. "Estive lá no mês passado. É um lugar milenar, de administração familiar, que não foi engolido por grandes cervejarias", conta Marco Aurélio, visivelmente encantado com o charme da cervejaria.
A Fuller 1845 foi criada para celebrar os 150 anos da casa. Representa perfeitamente a escola inglesa, muito tradicionalista. Nela, o protagonista não é o frutado, mas sim ditado pelo lúpulo, o que lhe confere o amargor. "Ela é maturada por 100 dias em barris de carvalho em comparação dos 14 a 21 dias das outras."
Todo esse conjunto harmoniza com a receita da alcatra, marcada pela robustez da carne, a força do queijo e o toque ácido do tomate seco.
Mestre cervejeiro - Marco Aurélio Ferreira é neto do fundador do Freguês. De uns três anos para cá resolveu estudar para valer a cultura cervejeira. Viajou, conheceu microcervejarias na Europa, se aprofundou. "Só faltou a faculdade na Alemanha", conta.
Impôs para si a missão de ser um embaixador dessa cultura na cidade. "É um compromisso meu com a Acerva Paulista (Associação dos Cervejeiros Artesanais do Estado).
E como um dos mandamentos dos movimentos Slow Food e Slow Bier é, de alguma forma, interferir na produção dos alimentos, Marco colocou a mão na massa, melhor dizendo, no malte. Começou a fabricar sua cerveja artesanal, por enquanto ainda servida somente em família. Agora, conversar com ele sobre o assunto é uma verdadeira aula.
Feita por monges para dias ensolarados
A La Trappe Blond (750 ml, R$ 49,90) chega à mesa com 2 anos de ‘guarda' (o equivalente à reserva do vinho). É uma trapista, o que indica que é produzida por uma ordem da igreja católica em seis mosteiros na Bélgica e um na Holanda.
A escola belga produz cervejas leves, indicadas para serem consumidas durante o dia e não à noite. Por isso pede carnes brancas e peixes.
Trapista é um apelido da Ordem Cisterciense da Estrita Observância. Surgiu do fato de que seu primeiro mosteiro foi a Abadia de La Trappe.
Os monges trapistas vivem da prática agrícola. Não são proibidos de consumir bebidas alcoólicas nem de comercializar o excedente de alimentos e bebidas produzidos.
Assim, ficaram famosas entre os apreciadores não só suas cervejas como também seus queijos. A ordem data de 1662. Dá para apreciar um pouquinho dessa tradição numa bela tarde de sol aqui pertinho.
Forte, escura e um tanto medieval
Essa pequena preciosidade, daquelas que dá vontade de levar a garrafa para casa, encanta de primeira ao olfato. A Christoffel Bok (330 ml, R$ 19,90) é uma holandesa de escola alemã.
Isso explica primeiramente o bok e não bock, como estamos acostumados nas nossas comerciais. A primeira é em holandês e a segunda em alemão.
Voltando ao olfato, a Christoffel Bok é perfumada, merece ter seu aroma comentado. Lembre-se, o ritmo da degustação é slow (devagar). Depois, o sabor que em nada lembra as bocks comerciais. Novamente a sensação é a de estar saboreando um bom vinho. E forte - sua graduação alcoólica, 7,8%, impõe moderação.
O interessante, como ensina o cervejeiro Marco Aurélio, é o processo de fermentação.
A fábrica tem por diferencial a manutenção da clássica fermentação aberta. O tanque é literalmente aberto, como era muito comum antigamente. Hoje é uma das poucas no mundo a utilizar o processo que dura três anos, sim, o mosto fica todo esse tempo fermentando.
Mosto é o nome usado pelos cervejeiros para essa etapa do produto.
Se radicalizado o processo de fermentação aberta, ele é provocado somente pelo uso de levedura selvagem - leia-se teias de aranha, insetos e tudo o mais que chegar pelo ar à mistura.
A Christoffel Bok usa também outro tipo de levedura inserido pelo fabricante, mas o resultado tem algo de medieval.
Você sabia que a fabricante da popular caninha 51 foi fundada em 1959 por Guilherme Müller Filho, um brasileiro de origem alemã?
E que neste ano, a Companhia Müller de Bebidas, líder mundial no segmento de cachaça, completa 50 anos e seu Ézio, como é conhecido seu fundador, acaba de lançar um produto para bebemorar?
É, só que o negócio é coisa fina, nada de misturar limão, açúcar e gelo para aquela caipirinha básica.
A um preço sugerido de R$ 120 o litro, chega a Reserva 51. Classificada como Cachaça Extra Premium, a produção da Reserva 51 tem tiragem limitada e é feita sob rigoroso controle de processos em todas as etapas: preparo do solo, corte da cana-de-açúcar, moagem, fermentação, envelhecimento e engarrafamento.
A bebida, envelhecida em barris de carvalho, é dedicada a um público seleto e com paladar exigente.
Seu Ézio é o responsável por mais esse produto. Reconhecido por seu paladar apurado, elaborou uma cachaça avançada em sabor, equilíbrio e cor.
A bebida, que era mantida em seu acervo pessoal e utilizada para presentear apenas os amigos mais próximos, agora será comercializada.
"Desde o preparo do solo para a plantação das variedades de cana-de-açúcar selecionadas até o engarrafamento da cachaça envelhecida, tudo está sob controle", revela Ricardo Gonçalves, presidente da empresa.
Após o envelhecimento, o produto passa por filtrações que promovem o polimento e garantem o brilho e a cor dourada. Com garrafa desenvolvida e produzida pela empresa francesa Saverglass, a Reserva 51 também tem tampa exclusiva produzida pela Tapi, da Itália, e rótulo em papel reciclado.
Essa aí é a estampa do Nederburg Twenty Ten, vinho oficial da Copa do Mundo 2010.
O produto começa a chegar a algumas lojas especializadas vindo da vinícola sul-africana Nederburg.
Ainda está na faixa dos R$ 40, mas deve baratear, com o aumento de pontos de venda e procura dos restaurantes.
Pode ser encontrado nas versões tinto, rosê e branco - Cabernet Sauvignon, Rose e Sauvignon Blanc.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.