Criação de complexo público de saúde no Grande ABC é aprovada pelos médicos; falta de acompanhamento tem impacto direto na qualidade de vida
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Autismo, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), bipolaridade, ansiedade, depressão, esquizofrenia, TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), distúrbios alimentares e dependência química são alguns dos transtornos mentais que mais acometem a população, segundo psiquiatras ouvidos pelo Diário. Eles podem ser causados por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais (desigualdades socio-econômicas, condições de trabalhos impróprias, entre outras).
A psiquiatra e diretora médica no Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Tânia Ferraz Alves, explica as principais consequências da falta de tratamento para pacientes com transtornos mentais. “Os mais recorrentes são impacto na vida cotidiana da pessoa, na qualidade de vida e na dificuldade para adaptar-se às realidades. O bem-estar todo sai prejudicado. Quando o caso é em um adulto, por exemplo, o prejuízo pode impactar também no propósito e na construção de vida”, diz a médica.
Tânia reforça ainda a necessidade de manter o acompanhamento na atenção primária, com ginecologista, geriatra e pediatra, pois muitos sintomas de transtornos mentais podem ser associados a outras doenças. “Muitas vezes os pacientes vão procurar os médicos por queixas variadas e têm uma depressão, mas ao invés da pessoa reconhecer o transtorno mental, procura ajuda devido a uma dor de estômago que não melhora ou a uma dor de cabeça. O acompanhamento periódico aumenta as chances de identificar os sintomas e ser direcionado para um profissional da área de saúde mental”, reforça a diretora.
Cada transtorno, incluindo seus níveis, demanda um diferente tipo de tratamento, afirma o professor titular de psiquiatria da FMABC (Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC), Arthur Guerra. Entre os acompanhamentos mais utilizados está o multidisciplinar, com diversas abordagens e atendimento com diferentes profissionais, o farmacológico (medicamentos) e a psicoterapia. A assistência médica também pode orientar mudanças no estilo de vida do paciente, como prática de exercícios físicos, boa alimentação e regulação do sono.
“O estigma em torno da saúde mental ainda é presente e impede muitas pessoas de buscarem tratamento, o que pode gerar mais sofrimento e agravar a qualidade de vida do indivíduo com transtorno. Evoluímos muito em relação as últimas décadas, mas podemos e devemos continuar falando sobre o assunto para conscientizar mais pessoas e ajudar a reduzir o medo e a incompreensão sobre o assunto”, descreve Guerra.
SINTOMAS
Assim como o tratamento, os sintomas variam para cada tipo de transtorno (humor, estresse pós-traumático, personalidade, etc), mas um sinal que pode indicar se o indivíduo deve buscar ajuda médica é se o sofrimento mental impacta nas atividades do cotidiano. O docente do departamento de psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Thiago Marques Fidalgo, descreve alguns dos sinais provocados pelos distúrbios psíquicos.
“Os transtornos mentais, nada mais são do que exacerbações de sentimentos normais. Então é normal se sentir triste, não é normal ficar deprimido. Na hora que a tristeza cresce e passa de um determinado ponto, é necessário procurar ajuda. Se a pessoa está deixando de fazer as atividades do dia a dia por conta daqueles sintomas, está com algum prejuízo no trabalho, na família ou com os amigos, então provavelmente tem uma relevância clínica”, conta Fidalgo, que também é presidente do CEPP (Centro de Estudos Paulista de Psiquiatria).
ATENDIMENTO REGIONAL
Na última semana, o Diário lançou uma campanha para implantação de complexo público de saúde mental no Grande ABC – o deputado federal Alex Manente (Cidadania) aderiu ao projeto e disse que reservou R$ 18 milhões das emendas impositivas para criação do equipamento.
Para o docente da FMABC, Arthur Guerra, a diretora do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, Tânia Ferraz Alves e o professor do departamento de psiquiatria da Unifesp, Thiago Marques Fidalgo, a criação do complexo de saúde mental na região irá fortalecer a rede de atendimento para pacientes com transtornos mentais.
“Os hospitais possuem leitos psiquiátricos que recebem os pacientes com transtornos mentais. A ideia é excelente, mas, na prática, não enxergo como sucesso por conta da falta de estrutura. A proposta é boa (complexo na região), vejo como algo sério e muito importante para suprir algumas demandas de atendimento”, pontua Arthur Guerra, que foi coordenador de saúde mental da Prefeitura de São Paulo de 2019 a 2020.
A médica psiquiatra Tânia Ferraz destaca a necessidade de oferecer atendimento multidisciplinar e para diferentes complexidades no mesmo espaço. “Ao fazer um complexo de saúde mental, você faz uma integração e uma linha de cuidado. Não adianta ter todos os níveis de assistência, primário, secundário, terciário, até eventualmente um quaternário para casos super graves, sem ter integração e conversa num projeto terapêutico individualizado”, finaliza.
Já Thiago Marques Fidalgo, que também é presidente do CEPP, entende como positiva a iniciativa de reunir diversos serviços destinados aos cuidados da saúde mental. “A junção de equipamentos é muito bem-vinda como estratégia de tratamento. É importante ter uma variedade de possibilidades para a assistência aos transtornos mentais”, diz o docente da Unifesp.
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