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Filme resgata história de cemitério indígena em Santo André

Córrego localizado na Vila Alice teria sido utilizado para rituais de sepultamento pelo povo Guayaná-Muiramomi, nativo do território

Thainá Lana
19/04/2025 | 08:34
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FOTO: Denis Maciel | DGABC

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Onde eram enterrados os Guayaná-Muiramomi, povo indígena nativo do Grande ABC? Segundo pesquisa documental e relatos orais, o Córrego Ambyrá ou Cemitério, localizado na Vila Alice, em Santo André, seria um dos locais utilizados para rituais de sepultamento por essa população. O documentário lançado neste mês, YY Marangatu- Águas Sagradas, produzido por coletivos da região, resgata a história de como as águas dos rios e córregos do município estão ligadas à espiritualidade e ancestralidade do território.

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A produção audiovisual é baseada em depoimentos de moradores de famílias centenárias que residem às margens do córrego andreense. Eles afirmam terem encontrado ossadas humanas e objetos indígenas, como potes de barro e até flechas no local. O documentário foi financiado pelo Fundo de Cultura de Santo André e tem como objetivo reconhecer, valorizar e fortalecer a presença dos povos indígenas nativos da cidade.

A socióloga e integrante do movimento Nhande Vae’eté ABC, Silvia Muiramomi, destacou que o projeto será encaminhado para USP (Universidade de São Paulo) para realização de uma pesquisa arqueológica mais detalhada na Vila Alice. “A várzea do córrego Ambyrá , com seu solo úmido, era ideal para os rituais de sepultamento. O povo Guayaná-Muiramomi, que habita a região, acredita que os corpos, ao serem sepultados em áreas alagadiças, retornavam ao ciclo natural da vida”, explicou. 

Santo André é margeada por 40 córregos ou rios, sendo que 16 deles possuem nomenclaturas indígenas, especialmente do tupi antigo, conforme levantamento realizado pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), com base no Mapa de Bacias Hidrográficas de Santo André.

Um exemplo é o Córrego Ambyrá, também conhecido como Córrego Cemitério, onde seriam realizados os sepultamentos indígenas. De acordo com a Prefeitura, o nome Ambyrá significa cemitério em nheengatu paulista (língua indígena que surgiu a partir do tupi antigo). 

Outros córregos com nomes de origem indígenas no município são: Itrapoã, Utinga, Cassaquera, Carapetuba, Guarará, Apiaí, Taioca, Araçatuba, Guaxaia, Araçaúva, Itororó, Pirambóia, Jundiaí, Rio Corumbiara e Ibirapitanga/ Taquara, Taubaté, Lavapés e Sorocaba. 

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PRESERVAÇÃO

“Estes nomes refletem a rica herança cultural e linguística dos povos indígenas que viviam na região. Antes da chegada dos europeus, o Grande ABC era habitado por povos indígenas, principalmente do tronco (tupi-guarani) Jê. Eles ocupavam as margens dos rios, córregos e trilhas, que eram essenciais para locomoção, pesca, agricultura e vida cotidiana”, explicou a Prefeitura. 

De acordo com o Paço, os indígenas nomeavam rios, morros, trilhas e aldeias com palavras em sua própria língua, geralmente baseadas em características da natureza, animais e plantas locais e eventos ou símbolos espirituais. Quando os colonizadores portugueses chegaram à região, muitos dos nomes indígenas já estavam em uso e foram mantidos ou adaptados. “Esses nomes foram passados de geração em geração e incorporados a mapas, documentos oficiais e, mais tarde, ao planejamento urbano”, destacou a administração andreense. 

O documentário Rios indígenas de Santo André, produzido também pelo grupo Guayaná Muiramomi, traz oito etnias indígenas para apresentar dez córregos do município, além de narrar a relação ancestral dessa população com a água. O vídeo está disponível no canal do Youtube. (@guayanamuiromi). 

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19 DE ABRIL

Neste sábado (19), é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. Segundo Censo de 2022, o Grande ABC possui 3.031 pessoas que se autodeclaram indígenas, sendo 2.897 em contexto urbano e 134 em territórios nativos. A maior população está em São Bernardo, com 1.300 indivíduos, seguida por Santo André, com 630 e Mauá, com 380.




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