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Aqueles zunzuns que ficam incomodando, durante anos, meses, dias, horas. Chegam aos pensamentos e dali não saem. A famosa “pulga atrás da orelha”. Ou como uma incômoda mosquinha, diferente daquela que às vezes a gente até desejaria ser para, sem ser visto, saber o que é que aconteceu, estão fazendo ou dizendo de você. A questão estará aí até ser resolvida, ou esquecida, não tem jeito. Às vezes as mosquinhas se juntam, infernais.
Uma fica zumbindo. A outra, mais criativa, adoraria se imiscuir no ambiente de origem da inquietação, para saber o que houve, se acha alguma pista. Não tem raquete elétrica que eletrocute pensamento persistente, intruso. Nem tapa, nem repelente. Tem de cuidar apenas para que não cresça ou evolua a ponto de atrapalhar de vez o dia a dia. Não pode é virar obsessão, senão complica. Pode ser uma dúvida, uma resposta que procura, um sentimento sem razão, uma resposta que deixou de ser dada em alguma ocasião, um porquê. De repente uma lembrança acordada por qualquer bobagem – e lá vem.
Zumbe na forma de pensamentos, bem repetitivos, que acabam trazendo consigo sentimentos variados, tristeza, uma certa angústia, se relacionados com fatores emocionais, relacionamentos inacabados formalmente, chances consideradas perdidas, diálogos interrompidos bruscamente. Aquele minuto que pode ter sido decisivo, qual foi? O que aconteceu? Porque não perguntei?
Nada mais razoável do que comparar esse tormento a insetos, os mais execráveis, que fazem barulho em torno da cabeça, machucam, tiram sangue, coçam, dão medo porque podem deixar doente. Mutucas quase invisíveis. Você não tem culpa. Os tais pensamentos atacam, chegam com horário definido, fim de tarde, começo da noite, no crepúsculo, pôr do Sol, noites de Lua Cheia, chuva lá fora, uma música que toca no rádio.
Pensamentos são a coisa mais livre do ser humano. Os mais guardados, secretos, só seus, íntimos. Difícil dividi-los porque, quando descritos, sempre precisam ser expostos com todo um histórico. Quanto aos zumbidos emocionais, creio, melhor guardá-los em algum caixa secreta. Só você mesmo poderá resolver, acredite, e tem uma hora que fará isso. Conselhos externos dirão quase sempre que é melhor deixar para lá. Difícil que consigamos mostrar que embora possam parecer pequenos a quem os ouve, têm uma dimensão inexplicável para quem os sente. Torcemos apenas para que não sejam muitos os que nos atinjam, não sejam enxames.
Não são como aqueles, diferentes, os pensamentos das boas lembranças, que nos fazem sorrir sozinhos, animadores, que tentamos reter, relembrar em detalhes que possam revivê-los – bom mesmo seria se apenas estes ocorressem.
Marli Gonçalves é jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo e autora de Feminismo no Cotidiano.
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