A indústria do ABC e de outras regiõe enfrenta uma realidade preocupante: a escassez de mão de obra para funções operacionais. Enquanto empresários lutam para preencher vagas na produção, cresce o número de pessoas que optam por trabalhar de forma autônoma, principalmente em aplicativos de transporte e entrega. O problema não é a falta de oportunidades na indústria, mas sim a mudança de comportamento da força de trabalho.
O modelo dos aplicativos seduz pela flexibilidade, pelos ganhos diários e pela sensação de autonomia. Diferente do ambiente industrial, onde há regras, hierarquia e horários fixos, dirigir um carro ou fazer entregas parece mais atrativo para quem busca liberdade imediata. Muitos trabalhadores abandonaram o emprego formal porque, no curto prazo, conseguem obter rendimentos semelhantes – ou até superiores – sem as amarras de um contrato CLT. A promessa de independência, somada à ideia de que podem ganhar mais trabalhando por conta própria, tem afastado cada vez mais pessoas das fábricas.
Esse fenômeno já impacta diretamente a indústria. Profissões como operadores de máquinas, soldadores e técnicos de manutenção estão em falta, muitas vezes comprometendo a produtividade e a competitividade das empresas. O cenário se agrava quando consideramos que, além da dificuldade em contratar novos trabalhadores, muitas indústrias perderam profissionais experientes para esse novo modelo de trabalho. Sem mão de obra qualificada, a produção desacelera, os custos aumentam e a capacidade de crescimento fica comprometida.
A grande questão é: como tornar a indústria novamente atrativa para esses trabalhadores? A resposta passa pela valorização do setor. Salários mais competitivos, benefícios diferenciados e um ambiente de trabalho amigável podem ser caminhos para recuperar essa força de trabalho. Além disso, é essencial investir em formação profissional e conscientização sobre as vantagens da estabilidade e do crescimento na indústria. Um diálogo mais próximo entre setor produtivo, governos e instituições de ensino é outro ponto que pode estimular a criação de programas que conectem novos profissionais às demandas da indústria.
Portanto, a indústria precisa encarar esse desafio como uma oportunidade de transformação. O desafio é grande, mas agir agora é essencial para garantir que o setor continue sendo um motor de crescimento econômico e uma fonte de empregos sustentáveis no futuro. Agora, se nada for feito, o segmento industrial continuará perdendo talentos, e a região, que já foi um dos maiores polos industriais do país, pode enfrentar um declínio ainda mais acentuado.