Além de abastecer a região e parte da Capital, água da represa movimenta a Usina Henry Borden
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A Represa Billings completou 100 anos de existência na última quinta-feira. Um dos principais reservatórios de água da Região Metropolitana, é conhecido como importante sistema de abastecimento hídrico no Grande ABC e parte da Capital, mas possui outras funcionalidades. Inicialmente, a represa foi projetada para ampliar a produção de energia na Grande São Paulo, após longo período de estiagem que resultou em uma crise energética registrada nas primeiras décadas do século XX.
Para atender a crescente demanda, o engenheiro Asa White Kenney Billings, da antiga empresa canadense Light, criou o Projeto da Serra, que visava a geração de energia elétrica aproveitando o desnível da Serra do Mar. Em 1926, entrou em operação a Usina de Cubatão, conhecida hoje como Henry Borden.
A partir da década de 1940, a Billings passou a receber as águas da bacia do Rio Tietê. A iniciativa buscava aumentar a massa de água na represa para que a Usina Henry Borden, em Cubatão, atingisse todo seu potencial produtivo. Para isso, o curso do Rio Pinheiros foi invertido com as usinas elevatórias de Pedreira e Traição.
Especialistas afirmam que as águas recebidas do Rio Pinheiros foram determinantes para o surgimento e agravamento da poluição da represa ao longo dos anos. Com a piora da qualidade da água, em 1992, por meio de decreto estadual, foi proibido o bombeamento para o reservatório exclusivamente para geração de energia. Atualmente, essa função ocorre apenas para controle de cheia como medida para combater as enchentes.
A decisão levou a uma redução drástica de 75% na produção regular de energia da Henry Borden. Desde a década de 1990, o aproveitamento do potencial da usina passou a ocorrer apenas excepcionalmente, em momentos de crise energética. Com uma geração média de 889 MW (megawatts), a planta tem capacidade de abastecer 4,27 milhões de residências.
CRISES ENERGÉTICAS
A operação da Usina Henry Borden é estratégica para o SIN (Sistema Interligado Nacional) e produz energia conforme solicitações do ONS (Operador Nacional do Sistema), segundo explicou o gerente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia de São Paulo), Admilson Barbosa. A concessionária de geração de energia elétrica atua no controle operacional do reservatório Billings.
“Durante os horários fora do pico, a empresa libera um pouco de água para manter o sistema funcionando, sem sobrecarregar as estações de tratamento da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e o abastecimento da região. No horário de pico, que vai das 15h até as 19h, a demanda por energia aumenta, principalmente devido ao calor, e a Emae, aumenta a potência de geração de energia”, pontuou Barbosa.
O SIN funciona como uma grande rede, na qual toda linha conecta os sistemas de geração. Ou seja, a energia gerada em Cubatão pode ser distribuída não apenas para a Região Metropolitana de São Paulo, mas também para o Interior paulista, para Minas Gerais ou até outros Estados, conforme as necessidades do sistema.
“Na prática, a Usina Henry Borden gera energia para o sistema, que distribui conforme demanda para as empresas de transmissão, e segue para as concessionárias, que levam até as residências. Apesar de não gerar energia em tempo integral, a usina pode ser rapidamente ativada para suprir a demanda em momentos de necessidade”, destacou o gerente da empresa.
‘Diário’ percorre o caminho das águas
A convite da Emae, a equipe do Diário acompanhou parte do percurso que a água faz até se transformar em energia. O ponto de partida foi a Usina Elevatória Pedreira, construída na Zona Sul da Capital, na década de 1940, para reverter o curso das águas dos rios Tietê e Pinheiros, para serem encaminhadas à Usina Elevatória Pedreira e depois para a Billings.
De lancha, o trajeto seguiu pelo reservatório passando entre São Paulo e São Bernardo, inclusive com passagem por baixo do Rodoanel Mário Covas. Na represa, uma das paradas foi na Usina Fotovoltaica Flutuante Araucária, inaugurada em janeiro de 2024, que ocupa uma área equivalente a cinco campos de futebol.
A embarcação seguiu até a Barragem Reguladora Billings-Pedras, estrutura localizada em São Bernardo, construída em 1936 para armazenar água e controlar o volume de rios. De lá, a água, depois de acumulada, segue para o Reservatório do Rio das Pedras.
Agora por transporte terrestre, o grupo de visitantes seguiu até à Casa de Válvulas da Usina Henry Borden, construção monumental localizada no topo da Serra do Mar, em Cubatão. O espaço abriga as válvulas-borboleta que controlam a entrada de água nos dutos da usina hidrelétrica.
A descida para usina foi realizada de trolley (espécie de carrinho) ao lado das tubulações que transportam a água em alta queda, de 720 metros, direto para a central elétrica Henry Borden. As águas chegam às duas usinas do complexo, denominadas de externa e subterrânea, que aproveitam a força da água para movimentar turbinas. A energia potencial da água é transformada em energia cinética e, por fim, em energia elétrica.
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