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Em 1921, o cirurgião canadense Frederick Banting e o estudante de medicina Charles Best identificaram e isolaram a insulina. No ano seguinte aplicariam este hormônio pela primeira vez em um paciente diabético.
Por várias décadas a insulina utilizada foi obtida através da purificação de extratos pancreáticos bovino ou suíno, inicialmente aplicada em várias doses durante o dia pelo fato de sua ação ser curta, porém, em 1946, um cientista dinamarquês criou uma versão de ação mais duradoura, permitindo menor número de aplicações.
Em 1982 um novo marco foi estabelecido com o surgimento da insulina humana sintetizada em laboratório, diminuindo sobremaneira a ocorrência de reações adversas.
Atualmente as insulinas podem ser classificadas por seu tempo de ação e isso se dá pela evolução conquistada em seus processos de produção.
Em sua apresentação rápida ou regular, aquela que mais se assemelha à primeira versão utilizada em 1922, sua ação principia em 30 a 60 minutos, com pico em 2 a 4 horas e duração total de 6 a 8 horas. A ultrarrápida, criada nos anos 2.000, inicia sua ação em menos de 15 minutos, tem seu pico entre 1 e 2 horas, com duração total de 3 a 4 horas. Estas versões são empregadas para correção imediata da glicemia em situações de descompensação glicêmica e/ou na cobertura do período da alimentação, habitualmente em diabéticos tipo 1.
A variante lenta, NPH, aquela criada em 1946, possui início de ação entre 1 e 2 horas, com pico entre 5 e 7, com duração total de 13 a 18 horas, uma inovação fabulosa à época, mas que obriga ao menos duas injeções diárias para cobertura das 24 horas.
Contudo, a partir dos anos 2000, as insulinas ultralentas estabeleceram novo salto qualitativo para o tratamento do diabetes, permitindo controle com injeção única diária e riscos bem menores de hipoglicemia.
Há algumas décadas seria inimaginável uma alternativa deste hormônio com uma aplicação semanal, mas é justamente essa apresentação que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) acaba de aprovar para prescrição médica no Brasil.
A primeira insulina semanal da história, a Icodeca, é fabricada pela farmacêutica Novo Nordisk, tem o nome comercial de Awiqli e poderá ser prescrita para pacientes com diabetes tipo 1 (com mais de 18 anos) ou tipo 2, porém, seu preço e previsão de chegada às farmácias ainda não estão definidos.
Para os portadores de diabetes tipo 1 o ganho é relativo, pois, sem produzirem nenhuma quantidade de insulina, continuam com a necessidade de várias aplicações das insulinas rápidas ou ultrarrápidas, especialmente junto às refeições.
Já nos pacientes com diabetes tipo 2, a insulinização é realizada em estágios mais avançados da doença, mas sem dúvida, é neste contingente que a administração semanal entregará maior comodidade.
É provável que em breve tenhamos insulina com duração de ação mensal, com sua ativação ocorrendo na proporção da demanda glicêmica, o que tornará o convívio com o diabetes, particularmente o tipo 1, muito mais confortável.
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
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