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Braskem acumula histórico de acidentes no Polo Petroquímico

Considerado um dos mais graves incidentes do complexo industrial, explosão em 2023 matou dois funcionários e deixou outros três feridos

Thainá Lana
20/03/2025 | 08:37
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FOTO: André Henriques/DGABC

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Além das ocorrências envolvendo danos ambientais, a Braskem, empresa presente com quatro unidades no Polo Petroquímico de Capuava, acumula histórico de acidentes, inclusive com vítimas fatais. Considerado um dos mais graves incidentes do complexo industrial nos últimos 50 anos, uma explosão registrada em 2023 matou duas pessoas e deixou outras três feridas.

O caso aconteceu no dia 22 de junho, quando funcionários da empresa terceirizada Tenenge, que prestava serviços para Braskem na época, efetuavam a pintura e a solda de um tanque de 12 metros de armazenamento, que estava em manutenção. Na época, a Braskem disse que a explosão foi causada por uma fagulha durante a solda, porém não explicou como resíduos de tolueno estavam no recipiente, que deveria estar vazio. Questionada, a petroquímica não respondeu, quase dois anos depois, se a causa foi encontrada.

Um dos trabalhadores, Marcos Antonio da Conceição, de 34 anos, foi socorrido pelas equipes de segurança do trabalho, mas morreu no dia do acidente. Doze dias após a explosão, Welquer Barbosa de Jesus, 30 anos, faleceu com queimaduras em 40% do corpo. Os dois vieram da Bahia para trabalhar em São Paulo. As outras três pessoas atingidas tiveram alta e se recuperam das contusões nas pernas devido à onda de choque (deslocamento de ar) ocasionada pela explosão no tanque.

De acordo com livro publicado pelo Sindicato dos Químicos do ABC, dos 50 anos do Polo Petroquímico, o acidente mais grave até 2023 tinha sido em julho de 1992, quando uma explosão seguida de incêndio matou o eletricista Ivo Carvalho da Silva, de 26 anos. O caso aconteceu na antiga na PQU (Petroquímica União), unidade adquirida em 2009 pela Braskem. 

OUTROS ACIDENTES

Apesar de ser o último com registro de óbitos, a Braskem coleciona outros acidentes, de maior a menor gravidade, ao longo dos anos. Em 2020, um incêndio atingiu o sistema de bombas de caldeiras e o fogo foi controlado pela própria brigada interna. Não foram contabilizadas vítimas.

Já em 2015, o rompimento de uma tubulação em uma das áreas de produção de petroquímicos básicos provocou um incêndio em uma das unidades e deixou seis funcionários feridos. Em decorrência das chamas, ruas ao redor da unidade foram interditadas tanto do lado de Santo André quanto de Mauá.

Além dos incêndios e explosões, outras ocorrências são registradas na Braskem e assustam a população do entorno. Em setembro do ano passado, por exemplo, um vídeo de fogo alto saindo do flare da sede da petroquímica repercutiu entre os moradores, que afirmaram na época que nunca tinham visto a cena antes.

O fogo alto apareceu por conta da interrupção da operação de uma das unidades e, de acordo com a Braskem na época, o acionamento do flare é um dispositivo padrão usado por indústrias químicas e petroquímicas.

NOVOS CASOS

No ano passado, quatro novos acidentes, entre os meses de setembro e outubro, foram registrados nas unidades da Braskem no Polo Petroquímico de Capuava, segundo dados do ConstruMob (Sindicato dos trabalhadores nas indústrias da construção e do mobiliário de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). Entre as ocorrências está uma explosão de pequeno porte que deixou um funcionário terceirizado ferido.

Por conta desses casos, diversos trabalhadores de empresas terceirizadas que atuam na Braskem realizaram protesto na portaria principal da empresa, em Santo André, em novembro de 2024. 

Neste ano, o sindicato afirmou que outros dois acidentes de trabalho foram registrados, um trabalhador teve a mão prensada ao montar um andaime e outros dois funcionários tiveram queimaduras por um flash no ‘ground flare’ (tocha) ao trocar uma válvula de bloqueio.

Devido às recentes ocorrências, sindicatos da categoria criaram no mês passado o Comitê Permanente de Segurança do Trabalho e Prevenção de Acidentes. “A iniciativa, também, é uma resposta ao aumento no número de acidentes percebidos pelos trabalhadores desde que dois funcionários da Tenenge morreram em junho de 2023”, destacou a associação.

“Esses acidentes não são comuns, o nosso objetivo é melhorar os instrumentos de segurança e prevenir mais casos. Outros sindicatos que representam funcionários da Braskem também estão envolvidos no comitê, que está sendo construído. Para os próximos encontros, pretendemos envolver a empresa e o poder público, como o MP-SP (Ministério Público de São Paulo), o Ministério do Trabalho, entre outros órgãos”, disse Mauro Lopes Coelho, secretário administrativo do ConstruMob.

Procurada, a Braskem disse que a sua prioridade é a segurança de seus integrantes, parceiros e da comunidade local. A petroquímica informou ainda que adota padrões rigorosos de segurança. “Realizamos investimentos contínuos nas melhores tecnologias disponíveis, infraestrutura e capacitação de equipes para prevenção de acidentes”.

Problemas com a empresa não se resumem à região 

Em 2018, as casas de moradores do Bairro Pinheiro, em Maceió, Alagoas, começaram a apresentar rachaduras em função do afundamento do solo, provocado pela extração de sal-gema em uma das minas da Braskem, por isso em 2019 o bairro começou a ser evacuado em função do risco de desabamento.

Em novembro de 2023, após tremores de terra, a Defesa Civil emitiu um alerta e milhares de famílias tiveram que ser retiradas de cinco bairros afetados, Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e Farol. Um mês depois uma das minas da empresa ruiu sob a lagoa Mundaú, no Bairro do Mutange, causando grave dano ambiental e afundamento do solo no entorno. A área já estava desocupada por ordem das autoridades, mas o processo culminou no deslocamento de pelo menos 60 mil pessoas e na desocupação de 15 mil imóveis.

Cinco anos após as primeiras rachaduras, os antigos moradores dos bairros afetados ainda lutam para serem ressarcidos pela Braskem pelo acidente que fez desaparecer bairros inteiros. As indenizações calculadas pela empresa são de R$ 40 mil por família, mas os moradores exigem a compensação pelo valor integral dos imóveis, que foram condenados.

Em outras áreas, como Flexais, Quebradas, Marquês de Abrantes, Bom Parto e Rua Santa Luzia, na Vila Saem, os moradores pedem o remanejamento das famílias devido à perda de condições de sobrevivência. Esses bairros, que se encontram fora da área oficial de risco, também apresentam indícios de afundamento do solo

Nesta terça-feira (18), a Defensoria Pública do Estado de Alagoas divulgou um documento que aponta que a área de risco pode estar subestimada desde 2022.

A Brasken disse que a proposta de compensação financeira havia contemplado 99.9% dos moradores afetados, totalizando um valor superior a R$ 4 bilhões.




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