Após um ano de ocupação em imóvel abandonado, organização popular conquistou novo espaço para formação e prevenção da violência de gênero
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Após um ano de luta e reivindicação por um espaço de enfrentamento à violência de gênero em Santo André, o Movimento de Mulheres Olga Benario inaugurou no fim de abril a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus, no bairro Vila Vitória.
O local, que está sendo mobiliado com doações, deverá ampliar a rede de proteção social às mulheres do município. Na casa serão promovidas atividades culturais e geração de renda, cursos de formação, rodas de debate, além da divulgação de serviços públicos que realizam atendimento às vítimas da violência doméstica.
Até chegar ao novo endereço, na rua Sebastião Pereira, as mulheres do movimento resistiram por um ano em uma ocupação de um imóvel abandonado na Avenida Dom Pedro I, na Vila Pires.
Segundo Natália Pires Caran, 30 anos, uma das coordenadoras da casa, o terreno era particular e o proprietário devia IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana). Após pedidos de despejo e série de diálogos entre o movimento e a Prefeitura de Santo André, a administração cedeu o terreno público para que a organização popular continuasse com o trabalho na cidade.
“O imóvel ocupado não estava cumprindo sua função social. Entramos no local em 25 de julho de 2021, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Realizamos toda a revitalização do espaço e criamos uma casa de passagem para atendimento e acolhimento de mulheres vítimas de violência doméstica”, explica.
A coordenadora, que é psicóloga e atende às mulheres que chegam ao projeto, destaca a alta nos casos de feminicídio no Estado e reforça o objetivo do Movimento Olga Benario que é de “ocupar imóveis abandonados que não cumprem sua função social há anos para reivindicar políticas públicas, e para a construção de casas que atendam mulheres em situação de violência”.
Em 2022, o Estado de São Paulo registrou 195 vítimas de feminicídio, o maior número de assassinatos de mulheres desde o início da série, em 2015 – ano em que o País passou a tipificar crimes desta natureza. Nos municípios do Grande ABC, seis vítimas morreram no ano passado.
“O cenário é muito preocupante e precisa ser olhado com urgência pelo poder público. Por isso, reivindicamos melhorias e ampliação dos serviços de atendimento às vítimas em diversas regiões do Brasil” – o Movimento Olga Benario também está presente em Mauá (leia mais abaixo).
Pires ressalta ainda o trabalho social promovido para além da casa. “Temos alguns núcleos em comunidades do município, onde divulgamos os serviços de proteção e acolhimento às mulheres em situação de vulnerabilidade e violência, e ajudamos elas a garantir outros direitos, como à saúde e educação, por exemplo”, finaliza.
EMPODERAMENTO
Durante a ocupação na Vila Pires, o espaço funcionou como uma casa de passagem. Porém, agora, a iniciativa busca organizar as mulheres para que elas lutem em defesa dos seus direitos, e por isso o local passou a se chamar Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus. Presidente do projeto social Mulheres Múltiplas, promovido no Jardim Irene, e integrante da coordenação de núcleos da casa, Tatiana Bertoldo, 42, diz que o empoderamento feminino deve estar aliado à independência financeira e emocional das mulheres.
“Todas temos uma voz potente dentro de nós, e às vezes só precisamos encontrar essa voz para poder lutar. Além do acolhimento, é muito necessário capacitar e formar mais mulheres. É o que pretendemos trabalhar na casa a partir de agora, cursos e oficinas que ajudem a aumentar a renda delas. Além de atividades culturais e de lazer”, diz Bertoldo.
Mesmo com o empenho das voluntárias, os custos mensais para manter o projeto são altos e dependem de doações, relembra Julia de Campos, 31, coordenadora da casa.
“Atualmente, tanto o espaço em Santo André, quanto as outras 12 casas distribuídas pelo País, contam com o financiamento coletivo através do apoia.se (apoia.se/pelavidadasmulheres). A principal forma de arrecadação é através do apoio de quem entende que a luta contra a violência contra as mulheres é uma luta urgente.”
Organização atua há sete anos em Mauá
Antes da ocupação do Movimento de Mulheres Olga Benário em Santo André, o grupo já estava presente desde 2017 no município de Mauá, onde construiu a Casa Helenira Preta para atender mulheres vítimas de violência na cidade.
A iniciativa, que busca chamar atenção do poder público para a ampliação de políticas e serviços de enfrentamento à violência contra as mulheres, aguarda a liberação do terreno cedido pela Prefeitura de Mauá para que uma casa definitiva seja construída.
Durante os cinco anos de ocupação em um terreno abandonado no centro da cidade, o movimento atendeu cerca de 1.000 mulheres.
A coordenadora da casa, Luiza Fegadolli Nunes da Silva, 26 anos, explica que além do movimento das mulheres, o terreno também foi ocupado pelo MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas).
“Foram duas ocupações, uma pela luta por moradia e outra pelo direito das mulheres. Em 2021 o terreno foi a leilão e foi iniciada uma série de mobilizações para impedir o despejo e poder continuar o trabalho. Teve uma manifestação no município com mais de 300 pessoas pela permanência dos movimentos no espaço. Após diálogos com a Prefeitura, a administração cedeu o terreno, e no início deste ano desocupamos o local”, diz Silva.
Os movimentos sociais aguardam a liberação para poderem construir as casas para as famílias e Casa Helenira Preta, que atua como centro de referência à mulher em Mauá.
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