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Prefeitura de Diadema
inaugura novo Centro Pop

Serviço voltado ao atendimento de pessoas em situação de rua contará com estrutura completa de higiene e alimentação; padre Júlio Lancelotti acompanhou evento de lançamento

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
21/05/2021 | 11:07
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Celso Luiz/ DGABC

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Atualizada às 14h00

A Prefeitura da Diadema inaugurou, na manhã desta sexta-feira (21), o novo Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua) Construindo Pontes Para o Amanhã, na Avenida Antônio Piranga, 1.088, no Centro. O espaço, voltado ao atendimento de pessoas em situação de rua, conta com estrutura completa de higiene, alimentação e capacitação, substituindo e ampliando a antiga instalação, localizada na Avenida Alda.

O evento de inauguração ocorreu nesta manhã, no salão do novo Centro Pop, e contou com a presença do padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, que realiza trabalho de referência nacional auxiliando e defendendo pessoas que vivem em situação de rua. Além do religioso, estavam presentes a vice-prefeita e secretária de Assistência Social da cidade, Patricia Ferreira, o prefeito José de Filippi Júnior (PT ) e o presidente da Câmara Municipal, Josa Queiroz (PT). Os quatro apresentaram o projeto em live que ocorreu no Facebook da Prefeitura.

Segundo o chefe do Executivo, as obras tiveram início em março, e foram finalizadas antes do previsto — a entrega estava programada para a última semana de maio. No espaço, os frequentadores serão acolhidos e orientados por assistentes sociais, educadores sociais e psicólogos. Ainda terão cursos profissionalizantes, orientação para retirada de documento, ingresso em programas sociais (como o Bolsa Família) e incentivo a voltar a estudar.

“Aqui será um espaço onde as pessoas que vivem nas ruas poderão recuperar sua dignidade, se recuperar, se reabastecer, ter combustível para seguir em frente e ter uma nova perspectiva de vida”, afirmou Filippi, reforçando que o trabalho prevê ainda mudar a característica do antigo espaço. “As pessoas preferiam ficar na rua do que ir para o Centro Pop, que tinha um banheiro sujo, era um ambiente totalmente inadequado, desumano, absurdo. Com esse espaço, queremos mostrar nosso olhar, e que a pessoa aqui recupere sua vida”, afirmou.

A reforma do novo Centro Pop contou com a colaboração dos usuários do serviço, que ajudaram na recuperação de prédio, que em 2010 abrigou a Central de Cadastros dos Programas Sociais, e no ano passado serviu como casa de acolhimento de moradores de rua contaminados pela Covid-19. Além disso, os referenciados escolheram o nome ‘Construindo Pontes para o Amanhã’. O local contará com acesso a banheiro e chuveiros, café da manhã, almoço, uso de guarda-volumes, ligação telefônica, área de atividades coletivas com televisor, serviço de lavanderia, espaço para guarda de carrinho de coleta de recicláveis, canil e espaço pet.

Em discurso, padre Júlio Lancellotti destacou que o serviço, além de humanizado, tem de ser de coragem. “Aqui os profissionais encontrarão muitas dificuldades, mas peço que não desistam. O número de moradores de rua cresce cada vez mais no nosso País, e vai aumentar ainda mais, por conta do efeito desse sistema neoliberal que vivemos”, lamentou o religioso.

O padre criticou ainda o capitalismo, e afirmou que a população, de maneira geral, não olha para os moradores de rua como seres humanos. “Se nesse sistema que vivemos não tivermos uma dose de rebeldia, é porque nos acostumamos com um sistema desumano, genocida, que mata, e que joga homens, mulheres, crianças, famílias e diversas pessoas nas ruas”, reforçou Lancellotti, destacando a inauguração do novo Centro Pop como um ato de “resistência ao maior”, frisando que os moradores de rua não podem ser “como pessoas invisíveis”. “Sejam humildes, mas sobretudo, sejam humanos”, finalizou o padre.

A vice-prefeita e secretária de Assistência Social da cidade, Patricia Ferreira, destacou que a pasta realizou um censo para levantar a real situação da população de rua de Diadema. “Não foi uma pesquisa que conseguimos alcançar todos os territórios, mas minimamente chegamos ao número de 137 moradores em situação de rua, a maioria homens”, contou Patrícia, revelando que a maior parte cumpriu somente o ensino fundamental, mas que há uma parcela de 3% graduada. “São vários os conflitos, desde familiares a drogas, sendo que 85% dessa população não é moradora de Diadema, e sim pessoas que migraram”, resumiu a chefe da pasta.

Patrícia destacou que a intenção é, com o serviço, minimizar a população que vive em situação de vulnerabilidade da cidade. “Aqui eles poderão se ressocializar, se reorganizar e reencontrar a vida”, comentou, afirmando que ainda há projetos a serem lançados. “Hoje mesmo começamos a campanha de inverno, onde vamos buscar esses moradores de rua para que possam dormir em albergues e fornecer cobertores”, anunciou Patrícia.

Mulher voltou para família e deixou vício com auxílio do serviço municipal

Viciada em crack, sem notícias da família e pesando somente 40 quilos, Isabel Santos, 32 anos, chegou ao Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua) de Diadema em julho do ano passado. Hoje, de volta ao lar, perto da filha Valentina, 2, e trabalhando, ela afirma que se não fosse o serviço municipal, não teria vencido.

Isabel, que estava limpa das drogas havia cinco anos, saiu de Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, e veio morar em Diadema, por insistência da irmã. No entanto, ao chegar no município, teve uma recaída e, mesmo com a filha tendo somente 11 meses, deixou a menor com o marido e a família para viver nas ruas. “Minha irmã não me queria mais em casa. Eu escolhi seguir as drogas e deixar todos eles.”

Ela conta que, na rua, para não sentir fome, saudade da filha e frio, usava cada vez mais crack para “anestesiar” os sentimentos. “Na rua você não vê nada. Não tem esperança. A rua tem cheiro de medo, de morte, saudade e angústia”, contou, emocionada.

Ela diz que outros moradores de rua, ao notarem que ela só chorava por sentir-se suja e com fome, indicaram o Centro Pop. “Quando cheguei na casa e me deram um prato de comida, chorei muito. A fome chegava a doer. Comi, tomei banho, contei minha história e foi ali que decidi que ia me recuperar”, relembrou Isabel, que conseguiu se limpar do vício, conseguiu emprego e retomar seu casamento. “Hoje estou com minha filha, casada, e quero muito poder ajudar outras pessoas que estão nas ruas, perdidas na vida, a encontrarem um novo caminho”, finalizou.

Programa Consultório de Rua volta a atuar na cidade

Durante o evento de inauguração do novo Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), a secretária de saúde Rejane Calixto anunciou a retomada do programa Consultório de Rua, que visa acolher de forma humanizada e ampliar o acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde.

O Consultório de Rua realizará atividades de modo itinerante, e contará conta com equipe composta por enfermeira, duas técnicas de enfermagem, psicólogo, dois redutores de danos e um motorista, além de um veículo tipo Van, que foi adaptado e servirá de apoio para os trabalhos. Inicialmente, a equipe ficará locada no prédio da UBS (Unidade Básica de Saúde) Paineiras.

Entre as atividades desenvolvidas estão o acolhimento e o atendimento integral das demandas de saúde como abordagens, orientações, trabalho de desenvolvimento de vínculos, cadastramento, consultas, curativos, medicações e encaminhamentos, em parceria com as equipes das Unidades Básicas de Saúde e outros equipamentos, como Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de cada território, para essa população que se encontra em condições de vulnerabilidade e com os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados.

“A iniciativa significa uma ampliação fundamental no olhar da Saúde, é o SUS (Sistema único de Saúde) cumprindo sua missão de alcançar uma população historicamente marginalizada dos cuidados de saúde”, disse a chefe da pasta

HISTÓRICO
O programa Consultório na Rua foi criado pelo Ministério da Saúde em 2009, focado na população usuária de álcool e outras drogas, como estratégia de redução de danos.
O desenvolvimento do trabalho mostrou a necessidade de reorientar a proposta para um olhar mais amplo de cuidados em saúde para população em situação de rua. A partir de 2011, o programa passa a ser alocado na Atenção Básica, com o objetivo de ampliar o acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde. Porém foi desativado em 2016.


Inauguração foi transmitida em live pelo Facebook da Prefeitura/ Foto: Celso Luiz/DGABC




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