Setecidades Titulo Iniciativa solidária
Projeto transforma lacres em
cadeiras de rodas em Santo André

Instituto, que nasceu em São Paulo, chegou recentemente à região e já doou 68 unidades desde que foi criado, em 2013

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
25/04/2021 | 15:14
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Nario Barbosa/DGABC

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Ajudar pessoas com deficiência, e também as que cuidam de pessoas deficientes, é o que move a psicóloga de São Caetano Eliane Lemos, 58, fundadora do Instituto Entre Rodas. A entidade, que deu os primeiros passos em 2013, em São Paulo, no dia 3 de dezembro, data em que se comemora o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, foi fruto de parceria entre a profissional, que já havia trabalhado com atletas cadeirantes, e seu marido, Adelino Ozores Neto Segundo, morto em 2019, e que era tetraplégico.

Eliane explica que quando conheceu o marido ele “já usava cadeira motorizada. Quebrou o pescoço quando tinha 18 anos”, conta. A psicóloga lembra que um dos sonhos dele era trazer o instituto para Santo André, meta que acaba de ser realizada. “O pai dele havia doado um espaço, no bairro Campestre, e Adelino queria muito que viéssemos para cá”, diz.

Agora, com o Entre Rodas no Grande ABC, ela já começa trabalhar forte. Entre as ações promovidas pelo espaço está a Inclusive Você, que atende crianças e adolescentes com deficiência física entre 5 e 14 anos incompletos, apoia a inclusão desse público nas escolas regulares e a sua participação em condições de igualdade na sociedade.

“Orientamos os pais e as escolas sobre os direitos dessas pessoas com deficiência. E todos ganham”, diz. Eliane explica que, com isso, os alunos com deficiência se sentem em igualdade com os outros estudantes e que isso serve até para quebrar possíveis preconceitos.

O foco do projeto é atender, principalmente, meninas e mulheres com deficiência. De acordo com Eliane, esse público é duplamente alvo de vulnerabilidade. E ela lembra que não se trata somente de pessoas com mobilidade reduzida. O Entre Rodas ampara, também, psicologicamente, mães que cuidam de filhos com deficiência.

“Quem cuida da cuidadora?”, questiona Eliane. E ainda mulheres que sofrem violência doméstica, por exemplo. “Tem gente que fica cega de tanto apanhar do marido. E se vier alguém que não enxerga aqui buscando ajuda, vamos ajudar”.

Ela conta que dentro do Inclusive Você, há campanha chamada #naoemito, onde as pessoas doam lacres de alumínio para o instituto. O material é vendido e revertido para a compra de cadeira de roda. “São cadeiras de alumínio aeronáutico, feitas sob medida para quem vai recebê-las”, diz.

Neste mês foram doadas cinco cadeiras por meio desse projeto. E, desde seu surgimento, em 2017, já foram distribuídas 68 unidades. Dentro da ação #naoemito, meninos também são contemplados.

Segundo Eliane, cada cadeira dessa custa, aproximadamente, R$ 5.400, sendo que o instituto paga metade e quem fabrica, a Alphamix, com sede em Goiânia, arca com o restante do valor. “Elas são leves, o que dá mais mobilidade para quem usar. São resistentes e as crianças podem até escolher a cor da cadeira”, explica.

Para Eliane, o fato de a criança ou adolescente poder escolher a cor da cadeira tem uma razão específica. “Você imagina essa pessoa podendo decidir algo, é empoderador. Ajuda para que tome outras decisões, na escola, na vida”, explica.

Ela conta com apoio de empresas, que doam os lacres de alumínio, mas qualquer pessoa pode colaborar. No Grande ABC há posto de coleta no Auto Posto Gravatinha (Av. Portugal, 1.756). No último dia 10, o instituto realizou a doação de cinco cadeiras de rodas na região.

De acordo com Eliane, as cadeiras são enviadas para famílias que realizam cadastro no site (www.entrerodas.org), mas é necessário que a criança ou adolescente esteja matriculado na escola regular. “É uma forma de incentivar essa igualdade que prezamos”, explica. 

Para se ter ideia, Eliane explica que é necessário juntar cerca de 540 quilos de lacres, o que equivale a aproximadamente 2,16 milhões de unidades para se conseguir pagar a cadeira de rodas.

Mas, além da ajuda para angariar lacres, o Entre Rodas, que conta com 12 voluntários para funcionar, aceita doações para manter seu espaço. Eliane conta que, recentemente, alguém tentou entrar no instituto e telhas foram quebradas. “Agora tenho de arrumar isso, colocar câmeras de segurança. Não é fácil. Mas vamos em frente.”

Com as ações, Eliane sabe que o Entre Rodas acaba fazendo a diferença na vida das pessoas. “Quando recebo o abraço de uma criança que ganhou uma cadeira de rodas, não tem preço. Ou quando uma mãe me agradece dizendo que incluímos, de alguma forma, a família dela. Isso é a razão da minha vida, sou muito apaixonada pelo que faço.” 




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