Nacional Titulo
Marcinho VP teria sido morto por 'falar demais'
Do Diário OnLine
29/07/2003 | 19:06
Compartilhar notícia

ouça este conteúdo

As autoridades do Rio de Janeiro acreditam que o traficante Márcio Amaro de Oliveira (Marcinho VP) foi assassinado porque 'falou demais' sobre o crime organizado. Ele foi encontrado morto na tarde de segunda-feira, ao lado de uma lata de lixo, no presídio de segurança máxima Bangu III (zona Oeste do Rio). O secretário de Administração Penitenciária do Rio, Astério Pereira dos Santos, afirmou que VP foi morto por asfixia mecânica.

As investigações policiais sobre o assassinato começaram nesta terça-feira. Agentes penitenciários de Bangu III e alguns dos 56 detentos que dividiam a cela com Marcinho VP foram ouvidos em depoimentos. Dois suspeitos já apareceram. Ambos são ligados ao tráfico de drogas e teriam a intenção de calar a vítima. O secretário disse que as informações passadas pelo traficante ao jornalista Caco Barcellos na elaboração do livro 'Abusado – O Dono do Morro Dona Marta' irritaram muitos criminosos.

O primeiro suspeito é Ronaldo Pinto Lima e Silva, que já foi integrante da mesma quadrilha de Marcinho VP (que já foi chamada de 'Turma da Xuxa'). Chefe do tráfico na Ladeira dos Tabajaras, Ronaldo está detido no presídio Ary Franco. O outro suspeito é Márcio dos Santos Nepomuceno, que também tem o apelido de Marcinho VP. Chefe do comércio de drogas no morro do Alemão, Nepomuceno está preso em Bangu I – no mesmo complexo penitenciário em que Márcio Amaro de Oliveira foi morto.

Nepomuceno teria inclusive enviado um recado com ameaças a Marcinho VP, semanas antes do assassinato. "Cala a boca senão você vai para a vala. Você está querendo aparecer demais", diria a mensagem, que ainda não foi encontrada. As principais suspeitas ainda recaem sobre Ronaldo Silva.

Os depoimentos dados por Marcinho VP a Caco Barcellos contam detalhes dos métodos de atuação do Comando Vermelho (CV) – facção criminosa com a qual ele tinha ligação. Apesar de o autor ter usado nomes fictícios na elaboração do livro (Marcinho VP é chamado de 'Juliano' e Ronaldo Silva foi batizado de 'Claudinho'), muitas personagens são facilmente identificáveis. A notoriedade de VP rendeu a ele a pecha de boquirroto entre os traficantes.

"Ele seria classificado pelos companheiros de facção como um fanfarrão, porque falava demais", explicou o secretário.

Segundo o advogado Ezequiel Costa, que representava Marcinho VP, o traficante havia demonstrado certa preocupação após a publicação do livro. Mas a vítima não reclamou de insegurança ou pediu transferência de Bangu I por causa disso.

Enterro - O corpo do traficante Marcinho VP foi enterrado no final da tarde desta terça-feira, no cemitério São João Batista (Botafogo). Cerca de 50 pessoas acompanharam o sepultamento, que mereceu um reforço policial nas imediações do cemitério e do morro Dona Marta – antigo domínio do traficante.

A passagem do documentarista João Moreira Salles pelo velório de Marcinho VP causou bastante tumulto. Amigo do traficante morto desde 1995, durante as negociações para a gravação do documentário 'Notícias de uma Guerra Particular', Salles chegou a pagar uma bolsa de R$ 1.200 mensais para que Marcinho VP escrevesse uma autobiografia. O cineasta assumiu responsabilidade no caso e chegou a prestar serviços comunitários para evitar mais problemas com a Justiça.

João Moreira Salles se recusou a conversar com a imprensa e disse que foi apenas prestar solidariedade à família. "Vim falar com pessoas que estão sofrendo. Só isso."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.
;