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Grande sucesso de público na Espanha, Kiki foi indicado para uns quantos Goyas - o Oscar espanhol -, mas levou somente o de melhor atriz revelação para Belén Cuesta. O sucesso pode ser creditado ao caráter transgressor da narrativa. Sexo, quando tema ou assunto, dificilmente nega fogo em países de forte tradição repressiva. A Espanha, não se pode esquecer, abrigou a Inquisição e o franquismo, que, por meio século, tentou manter o país alheio ao século 20.
Um filme como esse diverte, quanto mais não seja pelo ridículo de certas situações. Mas também coloca problemas. Não é nem questão de ser politicamente (in)correto, mas os episódios incluem estupro conjugal e maus-tratos a animais. O que o pobre pet tem a ver com isso? A tese é que, na busca do prazer, vale tudo. Vale mesmo? As perversões são as mais variadas possíveis, e às vezes a bizarrice até parece ingênua - tem gente que se excita só de ver o parceiro(a) dormindo, ou que goza vendo o outro chorar. É válido? O problema é que a transgressão é de mentirinha. Aquele orgasmo solitário não é exceção. O importante é o gozo individual.
Kiki reflete, no sexo, o estado do mundo. Não é segredo para ninguém que vivemos, desde o fim das utopias, numa era de competitividade, em que os indivíduos são estimulados a pensar cada um em si. Nesse caso específico, como seria um projeto coletivo - sexo grupal? Em Kiki, não dá certo. O mais curioso é que o filme, no fundo, é comportado. Uma fruta aqui, um picolé pingando ali são as metáforas mais explícitas (?) do ato sexual. O espectador ri do tamanho dos absurdos, não com os personagens. Veladamente, um filme preconceituoso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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