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O coordenador fundiário do Incra, José Monteiro, foi o primeiro a denunciar Marron e Irisvalda. "Faço questao de dizer que expulsamos os dois do assentamento Eldorado dos Carajás", disse Monteiro.
Segundo ele, Marron foi expulso porque tinha abandonado um lote no interior de Sergipe e nao fazia suas terras produzirem em Alagoas. Irisvalda porque transferiu a terra para um irmao, conhecido por Josito Bonfim, sem comunicar nada em assembléia aos demais assentados. "Depois de arrumar diversas confusoes no assentamento, vendeu o lote que estava no nome da irmao e desapareceu", afirma o coordenador fundiário do Incra.
A denúncia de Monteiro foi confirmada pela maioria dos assentados e por dois técnico agrícolas, Alexandre do Couto e José Gomes, contratados pela Central Estadual de Assentamentos de Pequenos Produtores (Ceapa) para dar assistências aos assentados da regiao de Uniao dos Palmares, a 94 quilômetros de Maceió. Nos assentamentos, ex-companheiros de ocupaçao também acusam Marron e Irisvalda de terem vendido terras da reforma agrária em Sergipe e Alagoas, além de ficarem com parte do dinheiro destinado à melhoria de condiçoes de vida nos assentamentos.
A acusaçao mais grave partiu do ex-presidente da Associaçao dos Assentados de Eldorado dos Carajás, Antônio Carlos Lima e Silva. "Tenho como provar que Marron é um aproveitador do MST. Ele nao tem moral para acusar ninguém de vender terras em assentamentos. Ele tem raiva da gente porque ajudamos a expulsá-lo daqui", afirmou Silva. "O lote dele", acrescenta, referindo-se a Marron, "era totalmente improdutivo; hoje produz frutas, verduras e raízes porque está nas maos de um verdadeiro agricultor, que era sem-terra, o senhor Antenor Pedro da Silva".
Marron confirmou ter participado, junto com 37 famílias, da ocupaçao de uma fazenda no município de Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe. "Depois dessa ocupaçao, como o movimento estava crescendo em Alagoas, o MST decidiu me transferir. O lote que era meu eu deixei para outro trabalhador rural", garantiu. Marron chamou de "mentirosas" as acusaçoes de seus ex-companheiros dos assentamentos Flor do Mundaú e Eldorado dos Carajás. Também desafiou os ex-companheiros e técnicos do Incra a provarem que ficava com parte do dinheiro destinado aos assentados.
No assentamento Flor do Mundaú existem 99 lotes. O líder da comunidade, José Maria da Silva, estima que 30% desse lotes estao nas maos de pessoas que nunca foram sem-terra: sao capatazes ou testa-de-ferro de vereadores, ex-prefeitos, empresários e latifundiários da regiao. Em Eldorado dos Carajás sao 143 lotes. Nas contas do tesoureiro da Associaçao dos Assentados, Francisco Ferreira da Silva, pelo menos 10% desses lotes foram "transferidos" para pessoas que nunca foram militantes do MST. Os dois assentamentos sao cobiçados porque possuem as melhores terras da regiao.
Um dos acusados de vender terras do assentamento Eldorado dos Carajás é o líder da Comissao Pastoral da Terra (ligada á Igreja Católica), José Severino, mais conhecido como "Indio". Seus companheiros de assentamento garantem que Indio passou para a Pastoral da Terra porque foi expulso do MST, depois que vendeu seu lote a um vereador do município de Branquinha, a 70 quilômetros de Maceió. O caso está sendo investigado pelo Incra, que suspeita de 40 transaçoes ilegais de terras da reforma agrária, na Zona da Mata de Alagoas.
O instituto já constatou que os vereadores Cláudio Calado (PTB) e Joao Anísio (PPB), de Branquinha, e um outro vereador de Murici (cujo nome nao foi revelado), além do funcionário público Emerson Frota Vegetti de Siqueira, sobrinho do prefeito de Uniao dos Palmares, Afrânio Vegetti (PSDB), estao entre os que compraram terras em Flor do Mundaú e Eldorado dos Carajás. Segundo as investigaçoes, os valores dos lotes variam de R$ 20 mil a R$ 25 mil. Os vereadores nao foram localizados pela reportagem. Um parente do vereador Joao Anísio confirmou a transaçao, dizendo que foi feita em nome de uma testa-de-ferro.
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