Política Titulo
Advogado de juíza interrompe depoimento aos gritos
Do Diário do Grande ABC
08/12/1999 | 20:17
Compartilhar notícia

ouça este conteúdo

O advogado da juíza aposentada Valdeci Lopes Pinheiro, investigada por uma suposta ligaçao com traficantes do Norte fluminense, Paulo Ramalho, interrompeu nesta quarta aos gritos os trabalhos da Comissao Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico na Câmara dos Deputados no Rio, durante o depoimento da magistrada - e, convidado a se retirar, provocou a deputada Laura Carneiro (PFL-RJ). A discussao aconteceu quando os deputados leram a degravaçao de uma escuta telefônica, feita com autorizaçao judicial, entre a juíza e o motorista dela, Manoel Antônio dos Santos - que está preso por formaçao de quadrilha e tráfico de drogas.

"Só saio se a senhora me der voz de prisao", ameaçou. A sessao foi paralisada e, logo depois, dada por encerrada.

A conversa gravada aconteceu em junho, antes da prisao de Santos, e, nela, Valdeci usava termos chulos. A CPI começou a questioná-la sobre o grau de intimidade entre ela e o motorista, confessadamente amigo dos irmaos traficantes Antonio Jorge Gonçalves dos Santos, mais conhecido como "Toni", e Arnaldo Gonçalves dos Santos.

Foi quando Ramalho, que representa a juíza - e ganhou fama como defensor do ator Guilherme de Pádua, assassino da atriz Daniella Perez - interrompeu o depoimento e, alterado, afirmou que a gravaçao era uma "prova ilícita" e que nao poderia ser divulgada, por estar em segredo de Justiça. Ele exigiu que a degravaçao fosse entregue à cliente - sem saber que pouco antes, a juíza e Laura tinham acertado que Valdeci teria acesso aos documentos.

Diante das alegaçoes do advogado, Laura decidiu fazer uma sessao fechada, na qual nao poderiam ficar nem a imprensa, nem advogados. Ramalho recusou-se e os deputados resolveram encerrar o depoimento. "Já estava mesmo no fim", argumentou o deputado Paulo Baltazar (PSB-RJ). Na verdade, o depoimento nao acrescentou nada às investigaçoes. Valdeci negou conhecer os traficantes e defendeu-se detalhadamente de várias acusaçoes que estao sendo investigadas pela polícia e pelo Ministério Público Estadual (MPE).

Já há inquérito aberto para apurar como uma arma registrada em nome dela foi parar com Santos - Valdeci alega que deixou o revólver no carro. Numa outra escuta telefônica, o motorista aparece dizendo ao filho que ia "levar as armas para a casa da juíza". Ela disse desconhecer do que se tratava. Santos foi acusado de participar de um linchamento, que resultou em homicídio. Foi absolvido por um júri presidido por Valdeci - que, no entanto, afirma que, nesse tipo de julgamento, a funçao do juiz é meramente administrativa.

"É no mínimo imprudente ter um motorista ligado a traficantes", avaliou Baltazar. "Ficou claro que ela tinha uma relaçao com ele que, por sua vez, tinha relaçao com 'Toni' e Arnaldo." Os deputados consideraram a história da arma nebulosa e também nao se convenceram com a defesa da juíza num confuso caso de apreensao de fardas roubadas do grupamento de fuzileiros navais da regiao. As fardas estavam sendo levadas para o sítio de "Toni" e foram apreendidas pela Polícia Rodoviária Federal. A juíza apareceu no local e fez um mandado de busca e apreensao, na hora, para ficar com a guarda das fardas. Ela alegou que foi a orientaçao que recebeu dos fuzileiros navais, o que foi desmentido no inquérito pelo comandante da unidade.

A Secretaria de Segurança Pública do Rio tem informaçoes de que o traficante carioca Luiz Fernando da Costa, mais conhecido como "Fernandinho Beira-Mar", desenvolveu um método para ganhar novos clientes. A cada partida de cocaína vendida para distribuidores com quem normalmente nao trabalhava, ele oferecia, de graça, pedras de crack. Como a droga vicia mais rapidamente do que a cocaína, ele, dessa forma, garantia o mercado.

No Rio, começou a chamar a atençao, nos últimos tempos, a apreensao de crack, antes praticamente inexistente no Estado, por uma estratégia dos traficantes locais. A investigaçao sobre a presença do crack levou a "Fernandinho Beira-Mar".




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.
;