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Para sindicalistas daqui e da Bahia, no entanto, as condições oferecidas no Nordeste não se justificam. A planta baiana é uma das mais modernas da empresa no mundo, no que se refere à automação industrial, ao conceito modular de produção e também às modernas concepções de gestão dos processos.
A modernidade nessas áreas da fábrica, que foi inaugurada no fim do ano passado com investimentos de US$ 1,3 bilhão e a ajuda de uma agressiva política de incentivo feitas pelo governo baiano – doação do terreno, isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) por longo prazo e obras de infra-estrutura para o funcionamento do projeto, entre outras vantagens –, convive com práticas de salários e benefícios inferiores aos concedidos por outras grandes empresas de Camaçari.
Em recente seminário da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros Automotivos), o vice-presidente da montadora, Luc de Ferran, afirmou que a empresa respeitava a cultura baiana, que segundo ele se traduzia em pessoas criativas e que têm facilidade para trabalhar em grupo. Mas para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Aurino Pedreira do Nascimento Filho, as condições oferecidas aos empregados são um desrespeito. Enquanto um operador de produção de lá ganha R$ 500, o de São Bernardo recebe R$ 1,6 mil; um ferramenteiro R$ 1 mil, ante R$ 3 mil; e um engenheiro, R$ 1,8 mil (aqui o salário é R$ 6 mil).
Nascimento Filho afirmou ainda que há funcionários na planta, vindos do Sul e Sudeste, de Estados como São Paulo e Paraná, que foram contratados para trabalhar lá, recebendo o valor das regiões de origem. “Para os baianos não há funções de destaque, somos a base operacional”, disse.
Além disso, os benefícios sociais são piores do que os oferecidos pelas empresas petroquímicas do pólo industrial de Camaçari, onde a companhia também está instalada. Não há, por exemplo, a prática de oferecer transporte aos funcionários – que existe na unidade do Grande ABC e também nas petroquímicas baianas. “É vexatório. Por conta do regime de turnos, há pessoas que chegam em casa de madrugada, correndo o risco de assaltos.”
Disposição – O sindicalista baiano afirmou que há disposição dos trabalhadores em sentar para negociar e resolver uma situação que é complicada. “Dentro da Ford temos um barril de pólvora, ninguém está satisfeito.”
No último dia 12, uma tentativa de assembléia de funcionários em frente à companhia foi reprimida pela Polícia Militar e resultou em 16 pessoas feridas. Os sindicalistas haviam bloqueado a passagem dos ônibus que transportavam os funcionários para fazer a assembléia, e a direção da empresa acionou o 12º Batalhão da Polícia Militar da cidade.
Na última semana, o sindicato local iniciou conversações com a direção da empresa. “Agora abriu-se a possibilidade de discutir os problemas do complexo Ford (ao todo são 2,5 mil funcionários).” De acordo com Nascimento Filho, a intenção é que se faça uma ampla pesquisa salarial. “Não há uma proposta formal, mas algo em torno de R$ 800 a R$ 1 mil para o piso inicial ficaria mais próximo da realidade das grandes empresas daqui.”
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