Vamos para mais um capítulo da conversa sobre o emprego do verbo haver. Já sabemos que, quando é empregado com o sentido de existir, ocorrer ou acontecer, o verbo haver é conjugado na terceira pessoa do singular, em qualquer tempo ou modo.

Não custa lembrar mais uma vez que essa particularidade de concordância se dá com o verbo haver, e não com os seus sinônimos ("Havia boas soluções", "Existiam boas soluções"; "Houve acirrados debates", "Ocorreram/ Aconteceram acirrados debates"). Também é bom lembrar que, quando é empregado com outros sentidos, o verbo haver é ‘normal', ou seja, é conjugado no singular e no plural ("Os cães não haviam sido vacinados" etc.).

Hoje vamos tratar da presença do verbo haver nas locuções verbais. Talvez convenha lembrar o que é locução verbal. Vamos direto ao ponto: "Estou indo", "Devo estudar", "Vamos viajar", "Costumo ir" etc. Lembrou? Nesses casos, o primeiro verbo é auxiliar, e o segundo verbo é principal.

Vejamos como fica a concordância nesses casos. Vamos tomar como exemplo o que se vê no título deste texto. Por que deve ("Deve haver boas soluções")? Já sabemos que, quando é empregado com o sentido de existir, o verbo haver não sai do singular. Ora, em "Deve haver boas soluções", o verbo haver, que é o principal da locução, tem o sentido de existir, não? Então, ao verbo auxiliar só resta obedecer à vontade do chefe, ou seja, ficar no singular, como ele (o chefe) ficaria se sozinho estivesse.

Moral da história: se dizemos "Há boas soluções", "Havia boas ...", "Haverá boas ...", devemos dizer "Deve haver boas soluções", "Devia haver boas ...", "Deverá haver boas ....". Como se vê, faz-se com os verbos auxiliares de haver o que se faria com o próprio verbo haver se ele estivesse sozinho, e não numa locução.

E o que ocorreria se trocássemos haver por existir? Teríamos "Deve existir boas soluções" ou "Devem existir boas soluções"? Se você pensar bem, responderá sem problemas, não? Veremos isso na semana que vem. Até lá.