Resgate às vítimas é homenageado nesta quinta-feira
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Eduardo Boanerges, major do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo e morador da Vila Curuçá, contou ao Diário os bastidores do trágico incêndio no Centro de São Paulo, que matou 187 pessoas e deixou mais de 800 feridos no prédio comercial Joelma, há 50 anos, em 1º de fevereiro de 1974.
“Não tem como descrever aquele dia. Depois dos poucos minutos que levamos para ir até lá já havia pessoas se jogando do prédio”, conta ele, que morava em São Caetano na época, mas atuava como cabo da 4ª Companhia de Salvamento do Cambuci, com foco no Centro Velho da Capital.
Aos 78 anos, ele e mais dez bombeiros de diferentes quartéis atuantes no resgate serão homenageados.
O ato, no Quartel de Bombeiros da Sé e na Câmara Municipal de São Paulo nesta quinta-feira deve se somar aos mais de 100 diplomas de mérito na parede, troféus e medalhas que já fizeram Eduardo perder a conta.
Segundo as memórias do bombeiro, tudo começou com um curto-circuito no 11º andar do Edifí Joelma, que tinha 24 patamares. Não havia extintores e nenhuma brigada de incêndio e as chamas de 500 graus atingiram rapidamente o 14º andar.
“Eram comum 20 ou 30 ocorrências por dia, mas quando falaram que era em um prédio, tudo mudou de figura. Lembro ser um dia com vento forte, o que fez com que a concentração de labaredas estivesse no lado Sul. Mas isto afetou também a rota de escape de quem estava por lá e a escada de emergência. Lembro que a maioria das vítimas, inclusive, eram mulheres”, destaca.
Ele conta que os agentes até subiram no prédio vizinho para montar uma estrutura de cabo aéreo, a fim de retirar pelo ar as vítimas individualmente, no 10º andar. Logo depois, a equipe recebeu informações que o resgate poderia ser feito andar a andar, já que o fogo tinha sido dominado internamente no 17º andar e diminuía - mas só cessou mesmo ao dia seguinte, totalizando uma persistência de mais de 10 horas.
Boanerges estima que 200 agentes trabalharam na ação e guarda até hoje em casa a escada que usou no dia: “sempre que a olho, cumprimento porque só por ela salvamos muitos”.
Para ele, mesmo após 50 anos da tragédia, o episódio ainda é recordado porque diversos prédios apresentam falhas similares e são um risco eminente ignorado. “Sem material de proteção ou um alarme, como era comum naquele período, o pânico reinou e a fumaça se tornou a maior inimiga. Isto fez com que muitos subissem as escadas ao invés de descerem e as mortes aumentaram. O triste é que ainda vejo prédios continuando a contar com a sorte, até mesmo em fachadas muito bonitas como na Avenida Paulista. O que vivi me faz lembrar de que não vale a pena economizar para poupar vidas”, finaliza.
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