Os mais de 4 mil caça-níqueis espalhados clandestinamente em bares, padarias, lanchonetes e bingos do Grande ABC arrecadam cerca de R$ 12 milhoes por mês, dos quais 70% ficam nas maos dos proprietários das máquinas ilegais. Os equipamentos sao emprestados em comodato aos donos dos estabelecimentos, que ficam com o restante - 30% do lucro obtido. As cifras geradas pelos jogos de azar sao totalmente ilegais. Por serem proibidos de funcionar no país, ninguém paga qualquer tipo de imposto sobre esses equipamentos.

Na regiao, Santo André é a cidade campea em número de máquinas eletrônicas de azar, com cerca de 1,5 mil unidades. Sao Bernardo está em segundo lugar, com 1,2 mil, seguida por Mauá (800), Diadema (700), Sao Caetano (250), Ribeirao Pires (100) e Rio Grande da Serra (80). Esses números foram levantados por uma pessoa que nao pode ser identificada. Segundo o levantamento, somente no Centro de Santo André, próximo à estaçao ferroviária, existem cerca de 40 máquinas em funcionamento.

Em Santo André, o ex-prefeito de Iaras (cidade do interior de Sao Paulo, a 300 km da capital) José Edval de Melo Araújo é acusado por donos de bares de ter sob controle mais de mil máquinas e faturaria aproximadamente R$ 49 mil por semana. Nos outros municípios, a disputa por pontos é mais acirrada e, praticamente, nao há predomínio de um controlador sobre o outro.

Em entrevista ao Diário, Araújo negou qualquer tipo de envolvimento relacionado às máquinas caça-níqueis. "Para mim, ser acusado de ter caça-níqueis seria uma surpresa, mas acaba nao sendo, porque sei que tudo se trata de jogada política", afirmou.

As máquinas de propriedade de Araújo seriam ainda, em sua maioria, de fabricaçao norte-americana (das empresas IGT e Ibally) e teriam uma característica especial em relaçao às outras: exibem a marca O Barao bem na frente do equipamento. Segundo o Diário apurou, o selo funcionaria como um aviso de "nao apreenda" para a fiscalizaçao feita pelos policiais. "Também desconheço a marca O Barao", afirmou Araújo.

Existe a suspeita de que alguns policiais recebem propina para permitir que os caça-níqueis funcionem sem problemas. Os delegados seccionais de Santo André e Diadema, Joao Gilberto Pacifico e Reinaldo Correa, respectivamente, negaram conhecer o esquema de pagamento de propina e prometeram investigar o envolvimento de policiais.

Além de Araújo, haveria ainda pelo menos mais quatro outros grandes donos de caça-níqueis no Grande ABC. Esses controladores de máquinas, no entanto, têm pontos descentralizados nas sete cidades.

Importaçao - Cada máquina ilegal rende uma média de R$ 700 por semana. Há pontos centrais de Santo André, Sao Bernardo, Mauá e Diadema, no entanto, em que os jogos retêm até R$ 1 mil/semana.

Em sua maioria, as máquinas sao montadas no Brasil, mas seus equipamentos chegam por contrabando dos Estados Unidos, Espanha e Taiwan. Os três países sao os principais fabricantes desse tipo de máquina. Predominam pela regiao, além de máquinas semelhantes às dos tradicionais cassinos norte-americanos, a Bingo Mania (gerenciadas pela família Ortiz, da Recreativos Franco), e a de Caveirinha (proveniente da Asia).

Os caça-níqueis sempre foram proibidos no país. No entanto, por estarem quase sempre maquiados com cartelas de bingo, os equipamentos passavam, muitas vezes, por videobingos.

Todas essas máquinas, entretanto, foram definitivamente desmascaradas no último dia 21 de outubro, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso baixou uma portaria ratificando a ilegalidade dos jogos considerados de azar. No documento consta que a proibiçao passa a ser estendida também para os videobingos que eram, até entao, permitidos.