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A violência que marcou o fim do desfile de domingo levou a diretoria do Bloco das Mocréias a tomar uma difícil decisão: encerrar as atividades depois de quase 40 anos de folia nas ruas de Ribeirão Pires. Em nota oficial, a Prefeitura havia informado ao Diário que iria convocar os organizadores do evento para "estabelecer critérios para evitar incidentes como os registrados no último domingo."
No entanto, reconhecendo a impotência da organização em realizar uma festa mais segura, o presidente do bloco, Mário Antonio Malerba, informou que em conversas com o restante da diretoria chegou-se ao consenso de que está inviável manter o Bloco das Mocréias no formato atual.
"Não conseguimos fazer mais do que isso: neste ano contratamos 40 seguranças particulares, deixamos de vender bebidas alcoólicas para evitar abusos e não vincular o nome do bloco com o álcool e distribuímos 3.000 garrafinhas de água doadas por um patrocinador", listou. "O nosso temor é pela integridade fisica dos foliões. Tenho medo do que pode vir a acontecer em um próximo evento."
O desfile de domingo foi iniciado por volta das 15h, depois de grande queima de fogos. A banda de marchinhas e as fantasias femininas animaram as cerca de 20 mil pessoas que acompanharam o trio elétrico durante três horas de desfile. Por volta das 18h, um clarão se formou na multidão. Ninguém sabe ao certo como começaram as brigas, mas muitos ouviram que rivalidades entre bairros e times de futebol teriam motivado as discussões que, levadas adiante por pessoas alcoolizadas, teriam atingido grandes proporções.
Por outro lado, os 73 policiais militares presentes usaram bombas de efeito moral, tiros de balas de borracha e golpes de cassetete para conter os ânimos. Segundo o comandante da Polícia Militar das sete cidades do Grande ABC, coronel José Luís Navarro, já foi instaurado um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar se houve abusos. "Não podemos permitir que a polícia extrapole nem que o folião que vai se divertir tenha sua segurança prejudicada", pontuou o coronel. "O comandante daquela área já está arrolando imagens e testemunhas. Queremos ouvir todos os envolvidos." O prazo máximo para apresentação de resultados da investigação é 60 dias.
Para Volpi, fim do evento não denigre Ribeirão
O prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV), disse ontem à noite que o fato de o Bloco das Mocréias ter anunciado o fim de suas atividades por causa da violência de domingo em nada vai denegrir a imagem da cidade nem mesmo no aspecto turístico. "O bloco sempre foi prestigiado pela Prefeitura, e até fazia parte das atividades festivas e culturais da cidade", explicou.
"Acontece que, ao longo do tempo, o bloco cresceu muito e acabou tendo participantes que não tinham sentimento de cidadania, de respeitabilidade à família e ao cidadão."
Volpi lembrou que até poucos anos atrás o bloco podia ser acompanhado até mesmo sem a presença da polícia, mas que em pouco tempo, o número de pessoas foi se multiplicando, fazendo com que o controle fosse perdido.
"Acabava o Carnaval em Mauá, por exemplo, vinha todo mundo para cá. Se não tem pré-Carnaval em Santo André, também enche o bloco", exemplificou. "Esse evento, que era de lazer, virou um sentimento de afronta às famílias da cidade."
Quanto à decisão da diretoria do Bloco das Mocréias, o prefeito não quis emitir nenhuma opinião, a não ser que "se eles decidiram isso, foi a decisão acertada."
"Os integrantes da diretoria do bloco são pessoas de bom-senso, conhecidas na cidade toda", disse o chefe do Executivo. "Vamos pensar em outra alternativa de lazer para o Carnaval do ano que vem."
Foliões do bloco sofreram violência no ano passado
Não foi a primeira vez que a festa das Mocréias de Ribeirão Pires acabou com tumulto e pancadaria. No ano passado, os ânimos se exaltaram e a Polícia Militar agiu, usando bombas de efeito moral e armas com bala de borracha. Vereadores como Gerson Constantino (PV), atual presidente da Câmara, já haviam sugerido transferir o desfile de lugar. O trajeto original era o Centro da cidade, e o vereador apontou um bairro mais afastado.
Todos os vereadores concordaram com Constantino, mas a Prefeitura pediu apenas que o bloco saísse no domingo, ao invés do sábado, a pedido dos comerciantes da região central. "Quem trabalha de sábado adorou a ideia", contou o presidente do bloco, Mário Antonio Malerba. "Nós também achamos que, pelo fato de ser no domingo e as pessoas terem de trabalhar na segunda-feira, iriam maneirar no álcool, mas isso não aconteceu."
Nos anos anteriores, os desfiles haviam sido tranquilos, mesmo com o rápido crescimento do público. Para se ter ideia, em 2003, o Bloco das Mocréias saiu com 700 pessoas. Cinco anos depois, em 2008, o público pulou para 10 mil. A última edição, domingo, contou com cerca de 20 mil foliões.
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