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Filme 'Jeca Tatu' comemora nesta segunda 50 anos de lançamento
Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
25/01/2010 | 07:03
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A história do cinema brasileiro é repleta de criatividade. Essa característica define bem o filme Jeca Tatu, que comemora hoje 50 anos de lançamento. A famosa produção protagonizada pelo comediante Amácio Mazzaropi (1912-1981) ainda é lembrada e tida como um dos principais projetos do ator e da cultura nacional.

Com direção de Milton Amaral (1934-1995), o longa preto- e-branco marca a estreia do inigualável Jeca Tatu nas telas. O personagem foi criado originalmente pelo escritor Monteiro Lobato (1882-1948) e ganhou vida e notoriedade graças à interpretação de Mazzaropi. A história mostra o herói morando ao lado da mulher e da bela filha em sua pequena fazenda. A garota começa a ser cobiçada por um mau caráter local, mas o patriarca não quer saber de casamento e acaba tendo problemas com o pretendente sem escrúpulos - incluindo ver sua casa pegando fogo.

A produção simplória abusa da linguagem coloquial e termos típicos da região do interior. Muitas piadas apostam na confusão que se é possível fazer em relação a certos termos, trabalho similar ao que é visto em humorísticos como A Praça é Nossa, do SBT.

O sucesso se deve muito ao carisma de sua estrela. "O Mazzaropi sempre representou algo muito popular e fácil de entender. Apesar de seu trabalho ser tão simples, todo mundo queria ver", diz o cineasta Luiz Alberto Pereira (leia texto abaixo). "Essa admiração que o público tinha por ele me atrai muito."

Outro destaque são as partes musicais. Além de interpretação engraçada, Mazzaropi se mostra um interessante intérprete vocal, cantando Fogo no Rancho e Pra Mim o Azar é Festa. Importantes figuras do meio musical da época, como Agnaldo Rayol e os irmãos Tony e Celly Campello, fazem participações,

PRODUÇÃO - O filme fez parte de uma nova etapa da vida do ídolo, que deixava de ser empregado para abrir sua própria empresa: a Produções Amácio Mazzaropi (PAM Filmes). Depois disso, o personagem viria a aparecer em outros projetos do comediante, casos de Tristeza do Jeca (1961) e O Jeca e a Freira (1967).

Grande parte das filmagens ocorreram em fazendas da cidade de Pindamonhangaba, mas algumas cenas foram rodadas na Vera Cruz, em São Bernardo. Os equipamentos e o processo de mixagem utilizados também pertenciam aos estúdios. Disponível atualmente em DVD, o longa era vendido como sendo grandioso e alegre. Assim como é o legado de Mazzaropi. 

Personagem influencia filme

A história de Jeca Tatu marcou época no cinema brasileiro e parece continuar influenciando nossa atual produção. O diretor Luiz Alberto Pereira utilizou os longas de Mazzaropi como tema de seu filme Tapete Vermelho (2005).

Com roteiro escrito pelo cineasta ao lado de Rosa Nepomuceno, a trama acompanha o simples Quinzinho (Matheus Nachtergaele), que está decidido a cumprir a promessa de, como presente de aniversário, levar seu filho Neco a uma sala de cinema em que a atração seja estrelada por Mazzaropi. Ao lado também da mulher e de um burro, ele parte por diversas cidades atrás de lugar adequado para a sessão.

"No filme, o Jeca é apenas um ponto de partida. O longa fala sobre o amor pelo cinema criado graças ao personagem e o drama da falta de salas", explica Pereira.

O ponto alto da produção fica por conta do belo trabalho de Nachtergaele como o típico caipira. Em muitos aspectos, é evidente a busca do ator por criar sua própria versão de Jeca Tatu, abusando de trejeitos e do forte sotaque interiorano.

Apesar da inspiração de Tapete Vermelho ter sido o saudoso comediante, o diretor confessa que não é um fanático de seu trabalho. "Não sou um fã, mas tenho muita admiração e deslumbrância pelo o que o Mazzaropi causava nas pessoas. Infelizmente, isso ficou no passado."

Pereira cita a ambiguidade ingênua como o principal ponto a ser observado em Jeca Tatu e no personagem que criou. No caso, ambos são o estereótipo do caipira simples que parece ser controlável, mas são eles quem conseguem manipular todos a seu redor. Segundo ele, "a ingenuidade está presente em todo o mundo. As pessoas querem ser ingênuas, mas esse tipo de sentimento parece ter se apagado". Que seu trabalho e o de Mazzaropi nos inspirem a ser mais simples.




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