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Fernado Sabino lança 'Livro Aberto'
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
29/04/2001 | 19:34
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Livro Aberto, Páginas Soltas ao Longo do Tempo (Record, 656 págs., R$ 45), de Fernando Sabino, poderia ser rotulado simplificadamente de obra póstuma lançada em vida. Mas é muito mais.

Reúne textos selecionados pelo escritor mineiro de 1939 a 1998: são crônicas, resenhas, apontamentos e reflexões sobre fatos que o assombraram no cotidiano. É possível abrir o livro aleatoriamente e refletir com o autor sobre os mais variados assuntos, da morte de Dolores Duran aos comentários sobre um amigo que comemora ter parado de beber.

Longe de se tornar um ajuntamento de idéias, Livro Aberto obedece a critérios pessoais. A começar pela justificativa do inventário, fornecida pelo depoimento do próprio escritor na biografia Fernando Sabino: Reencontro, lançada pelo jornalista e escritor Arnaldo Bloch no final de 2000. “O que não estiver em Livro Aberto é condenado ao esquecimento”, registrou Bloch. A firme decisão de Fernando Sabino vem suavizada por um comentário bem-humorado, como lhe é peculiar. O escritor se arrepia em imaginar “cadernos literários publicando suas redações escolares” após sua morte.

Mas Sabino se expõe de forma generosa ao relatar leituras, andanças e encontros. Ele relembra os tempos idos e vividos em Nova York, nos anos 40, e em Londres, nos anos 60, além de passagens pela Europa e por Cuba. Há impressões e causos sobre encontros com grandes amigos e artistas.

Infelizmente, as intenções de Sabino para Livro Aberto não são facilmente atualizáveis. O autor evita conceder entrevistas desde 1991, ano da publicação de Zélia, Uma Paixão, sobre a trajetória da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. A crítica especializada, ferida como cidadã pelo confisco promovido pela biografada, condenou sumariamente o romancista. O autor de obras importantes como O Menino No Espelho e O Grande Mentecapto teve de engolir muita gente à época declarar: não li e não gostei.

Em Livro Aberto, Sabino inclui sua versão para o caso, que se fundamenta no fato de ele ser um escritor profissional. “Ao contrário do que tem sido propagado pelos que não o leram (Zélia, Uma Paixão), foi precisamente uma experiência literária inédita que me desafiou: escrever em termos de ficção sobre uma insigne personagem da vida real”, argumenta.

Página virada, vamos adiante, ou melhor, ao início de tudo. A crônica O Caçador de Borboletas, escrita pelo menino Fernando, aos 15 anos, ainda em Belo Horizonte, abre Livro Aberto. Nela, o cronista sofre pelo amor de uma mulher leviana e desabafa com um passarinho insolente. O diálogo, ainda um tanto infantil, revela a sensibilidade do homem, sensibilidade esta que sustentaria toda a sua fantástica prosa.

Sensibilidade ainda que o faz admirar-se pelas coisas e gente deste mundo. Como um caçador de borboletas, ele passou e passa pela vida se dedicando a aprisioná-las em crônicas irresistíveis. Em Livro Aberto, Fernando Sabino marotamente convida o leitor a conhecer sua coleção de borboletas. Não resista.




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